Na viragem da década de 60 para a de 70 do século passado, Hunter S. Thompson procurava o que restou do sonho americano em Las Vegas. O cinema porno do país, propulsionado pelo libertarismo erótico da época, popularizava-se em orgasmos psicodélicos. S. Thompson encontraria os destroços do sonho numa tasca nos confins de um subúrbio decadente da cidade, junto ao deserto.
Já em 1968, Stanley Kubrik tinha finalizado a sua ópera espacial com outra explosão psicadélica, esta profundamente solitária, encontrando as suas portas da percepção nos confins do universo.
À época, o ritual de passagem de bebé a criança de toda uma geração ocidental foi feito em frente a um televisor vendo o pequeno passo do homem, o salto de gigante para a humanidade. Geração que acompanhava sazonalmente os novos lançamentos do grande falo branco em direcção à Lua estéril que se pretendia utopicamente fertilizar.
Ainda em emissão tv low-fi acompanhava-se os saltos mágicos da baixa gravidade e depois todo o complexo processo de resgate de descontaminação dos sobreviventes, mecânicos facilitadores da operação, recolhidos da pureza do útero materno do oceano onde amaravam.
Toda a aventura era um gigantesco símbolo, a testosterona de um sistema em guerra fria como o espaço profundo, com um outro, obscurecido por detrás de uma cortina de ferro, dizia-se.
Tudo simbólico como o desejo e a aspiração de uma idade de ouro sonhada mas perdida entre a selva, o gueto e o subúrbio. Subúrbio onde A. Huxley, já na primavera de 53, numa viagem de mescalina, e ao contrário do herói de Kubrik encontrara as portas da percepção num centro comercial, ao folhear uma monografia de pintura barroca, numa livraria.