Este vídeo foi feito em 2010 com a intenção de «completar um ciclo», um ciclo que, de facto, nunca foi encerrado conceptualmente. As primeiras experiências neste tipo de trabalho datam de 2006, quando, em colaboração com um arquitecto especializado em operações de demolição com explosivos, fizemos explodir uma microbateria dentro de uma massa de gelatina. O resultado foi o «congelamento» da explosão, como quando uma imagem única é isolada de uma sequência vídeo de forma a capturar o momento de maior expressividade, sob uma forma escultórica. De 2006 a 2013, foram realizadas várias «explosões congeladas», sempre enquanto um acto performativo isolado com a duração de uma fração de segundo. Entre a explosão e o resultado, pela impossibilidade de ver o «tempo», demasiado rápido para o olho humano, encontramos congelada na matéria, a expressão mais forte do acto explosivo. Foi em 2010 que decidi que queria fragmentar ainda mais esse «tempo» usando o processo do filme como uma ferramenta, mas ao invés de fechar um ciclo, novos foram abertos. O vídeo resultante colocou em evidência a dinâmica da relação entre forças que empurram e outras que resistem a um «acordo», um ponto de equilíbrio no qual elas se neutralizam e no qual se dá o retorno de uma espécie de quietude. Trata-se, obviamente, de uma quietude física, de um equilíbrio estável, mas também da expressão de um potencial destrutivo retido no decorrer do tempo. Se a explosão congelada na gelatina, representação de uma quietude efémera, seja como acto performativo ou como objecto escultórico, conservou intacta a sua força expressiva, a dinâmica da relação entre acção e resistência enquanto motor gerador de significados, condicionou e orientou fortemente o desenvolvimento dos meus projectos seguintes.
Como referia Lawrence Weiner, a propósito do seu trabalho Cratering Piece de 1960: «Não pode existir uma explosão sem resistência. Uma explosão é apenas uma explosão se houver algo que vai contra ela».
Ao longo dos anos, as explosões congeladas nunca encontraram um título que realmente satisfizesse, até 2013, quando a executei ao vivo pela última vez na abertura da exposição Exploding Utopia na Laure Genillard Gallery, em Londres. «Houve um grande estrondo seguido de muitos aplausos», escreveu-se. Na verdade, para mim, foi como uma reacção impulsiva, libertadora, à não-desilusão da expectativa do público. Que melhor título, portanto, do que Congelar a Utopia [Freezing Utopia]?