Distinguir através de ausências e outros exercícios semelhantes permite-nos o abandono plácido da contenção. Ainda, porém, nos restam os meios – a matéria que julgamos reconhecer e que, acirrados, classificamos. A isto, a psicanálise de Abraham denominou de ferramentas «anasémicas»: aludir ao desconhecível por meios do desconhecido[1]. Prefiro atribuir-lhes a função de alcance… Durante uma aproximação visual, colidimos uma imagem, rebatendo a sua escala e distância e as sucessivas oscilações daí resultantes. O acto mágico também acontece nessa distensão. O pano negro serve de absorvente e provocam-se ausências e surgem orelhas de coelho e mãos desnudas, antes mesmo de qualquer figura.
Aguardar por um evento natural, demoroso e errático, pode ser outro método de alcance. É nessa prostração amofinada que deixamos de ser precisos, descuidamo-nos das nossas tarefas, e involuntariamente evocamos a anti-metáfora, o sono e a preguiça. Poderia dizer-se, talvez, que sofremos todos do mesmo mal…
Footnotes
^ Nicolas Abraham and Maria Torok, The Shell and the Kernel. Chicago: The University Press of Chicago, 1994, p. 23.