Com o transporte aéreo em massa, os seres humanos são propelidos para um espaço onde outrora talvez se imaginasse que residiam os deuses. As viagens aéreas comerciais, depois da sua idade de ouro – quando foi cunhado o termo «jet set» –, foram postas em causa por medidas de segurança mais rigorosas e mais complexas e por um processo de desindividualização. Um viajante de avião já quase não se sente especial. Os passageiros são apanhados num espaço de trivialidades maçadoras e entediantes, por um lado, e a ideia do modo de viajar mecanicamente mais radical e acessível, com a sua sensação precária e ilusória de ligação global. Que tal sentir-se de repente instalado no lugar que poderia ser o dos antepassados da carga, transportados por essa maquinaria, a caminho da congregação do culto dramático deles, cujo membros constroem modelos de aviões e pistas de aterragem para chamar O T E U P R Ó P R I O A V I Ã O, A T U A P R Ó P R I A M A L A C H E I A D A S T U A S M A I S R E C E N T E S P O S S E S M A T E R I A I S, O T E U P R Ó P R I O C O R P O C O M O T E U P R Ó P R I O O D O R, A T U A P R Ó P R I A E X I S T Ê N C I A C O M O T E U P R Ó P R I O C O N J U N T O M U I T O P E S S O A L D E V A L O R E S E D Ú V I D A S. E talvez nunca mais desejes aterrar em solo conhecido.