Uma memória da apresentação de Muyassar Kurdi na Zaratan, em Lisboa, a 19 de Abril, que incluiu a projecção do seu filme Field Dances (2019).
De vermelho ela larga a correr
o corpo solicitado em vaivém por uma encosta florestada
se tomado por uma angústia agrimensora se
buscando polinizar
a mão aproxima-se, abarca a flor o seu magnetismo
como medindo, pesando o seio filmado
avaliando
sonhos de alvas clematites
joelhos que flectiriam
o pescoço inquirido
a razão
em bicos de pés, inteiriçados
era num filme
mão que escorre, sobre a pele, um anel
percorria
a mão num estranho convite
o braço estendido
o grito a flor o ângulo
agudo
Eu não sei no que pensas
ao pé de mim a tua garganta
arfa, grita, gargareja, expulsa
tocaste-me
o teu recital condensado
o corpo-concerto gemendo
de cidade em cidade
interpela
traduz um lamento, maneira
de nada lamentar
nem o insistente
teremim lancinando
e a contida frequência
de um espasmo
— então deixaste
por dizer
parece
–
Muyassar Kurdi, artista interdisciplinar, vive e trabalha em Brooklyn. A sua obra, que apresenta regularmente nos EUA e Europa, abrange o som, técnica vocal expandida, performance, movimento, fotografia e cinema. A solo e em colaboração, Muyassar faz música improvisada e compõe e interpreta música para voz, harmónio, piano, lira, autoharpa e teremim.