Galáxias
Tomo I – Inverno Galáctico
Epílogo I
Se pudéssemos comparar o Universo, tarefa difícil, com algo que conhecemos, diríamos que nessa tentativa não faltariam adjetivos que não contemplassem o vácuo, o escuro, o gelado, o endromino, o abominável e o maravilhoso que o mesmo exalta... O Universo é algo de inimaginável, e contudo não faltam investidas, dispersas e corajosas em o tentar explicar. Terá talvez a haver com o «acaso», dirão os afoitos, ou algo que partiu de uma excecional Matriz previamente pensada – um «qualquer» plano muito bem delineado, dirão outros. Aquilo que o Universo é, ou parece ser, expandiu-se a partir de um pequeno ponto, um pontinho capaz de representar todo o espaço conhecido, uma imensa «teia de fogo» indistinta que emergiu há cerca de 13.800 mil milhões de anos. E que continua em grande expansão: – colossais nuvens, ou nebulosas, de poeira e gás espalhados e dispersos ao destino. Independentemente do facto de este Universo poder ser apreendido enquanto entidade inteligível (ou não), uma espécie de «figura pensante», não deixa de ser observado, em termos formais, como algo imensamente assustador. Permanentes «fogos de artifício» de proporções épicas, irradiam todo o semblante que assim fica recheado pelo eclodir luminescente e fosforescente de múltiplos núcleos de estrelas, ora concentradas ora dispersas. Com a ajuda de poeiras e de gás interestelar formaram-se e continuam a formar-se incalculáveis «manchas de matéria» sempre em intercisão – puro «néctar celeste» que o povoa de lés a lés. É justamente no interior dessas eloquentes incubadoras de estrelas, as designadas nebulosas, que grandes ilhas de estrelas, aglomeradas, dão origem ao que de mais precioso parece existir por essa bandas – a vida exarada pelas galáxias, polos agregadores de tudo que gravita à sua volta. Mas se é verdade que as nebulosas são os lugares dos acontecimentos galácticos – as maternidades –, também não deixa de ser verdade que «elas» próprias se fazem representar por autênticos cemitérios e, desse modo, cada grão de poeira interestelar parece lutar avidamente pela vida, pelo lugar a que tem direito no mapa cosmológico, gerando tensão a cada instante mínimo, e com tudo aquilo que represente uma ameaça à sua existência.
Num desses pontos extremos do espaço sideral, conhecido e mapeado, encontram-se algumas das mais interessantes constelações: Mayi, Gelia, Garin, entre incontáveis outras de classe inferior. No seu conjunto estabelecem um ponto preciso do Universo, rico e diverso em sinais cintilantes e abundantes e indicativos do inimaginável número de estrelas, e de matéria. Incomensuráveis galáxias invadem esse «ponto» especial, possibilitando a formação de sistemas planetários ricos em oportunidade de acontecimentos, sendo que a vida consciente toma, por vezes, a dianteira nesse complexo processo.
As galáxias apresentam-se no firmamento celeste através de lindíssimas morfologias, incomparáveis entre si. Bonitas formas desenham-se com se se tratasse de um autêntico Bilhete de Identidade. Não existem, por isso, duas galáxias iguais – elípticas (em elipse), espirais (em disco), ou em espiral barrada, ou ainda simplesmente irregulares.
Também elas procuram avidamente o seu lugar no universo, comportando-se como qualquer organismo na insanável luta pela sobrevivência. 170 biliões de galáxias, pelos menos aquelas que se situam no espectro percetível, capazes de serem detetáveis através de radiação, qualquer coisa que oscila diametralmente entre 1 000 e 100 000 parsecs, mais ou menos um átomo por metro cúbico, põem-nos, sem dúvida, nas proximidades daquilo que designamos por uma autêntica, fidedigna e genuína poeira gelada intergaláctica.
De entre estas inenarráveis maravilhas siderais, a galáxia Antrax emerge como uma legítima herdeira ao trono Real. Encontra-se cheia de vida. Com forma em espiral barrada, contém dois braços que rodeiam completamente o seu ultra-luminoso centro e quando é observada de longe faz-nos lembrar o desenho do símbolo Ying e Yang, em que a parte branca se assemelha a um dos braços, a preta a outro. Apesar do seu insólito desenho, a presente galáxia possui diversidade quanto baste, milhões de milhões de estrelas estabelecem uma astuta e trabalhada forma gravítica, com triliões de planetas e planetoides enquadrados por todo o tipo de sistemas planetários – solitários, binários, múltiplos, bizarros... .
Sendo Antrax uma galáxia de média dimensão, munida de diversos sistemas solares, possui seis planetas dotados de vida consciente, embora cada um deles ocupe, na grande montra evolutiva das espécies, estágios contextuais e civilizacionais muito descoincidentes entre si.
Mas também no interior dessa enorme variedade encontramos vida consciente – uma imensidão bio-geológica, sendo que os estádios da matéria, e devido às leis que regem as mesmas serem iguais em todo o Universo, se encontram organizados de formas inimagináveis, provocando um menu de maravilhas. Povos e comunidades perfeitamente adaptados aos seus Mundos e construídos cada um deles de acordo com a sua própria cosmogonia.
Federações, confederações, repúblicas, monarquias e estados totalitários perfazem uma deliciosa amálgama de Mundos habitados por estranhas criaturas que, embora fisiologicamente semelhantes, possuem características invulgares e singulares perfazendo a crença de que a vida no Universo, para além de ser convergente, se resume à eterna luta pela sobrevivência.
Mas, comecemos pelo princípio.
Epílogo II
O sistema planetário Garin
O sistema planetário Garin, denominação que também é comum à constelação a que pertence, é um dos mais antigos de toda a galáxia, e encontra-se localizado no último braço, na sua parte mais externa, a cerca de 25 000 anos luz do rebordo da mesma e a cerca de 40 000 anos-luz do seu centro. Sabendo-se que um ano luz é igual aproximadamente a 9 milhões e meio de milhões de quilómetros, Garin é, pois, um pequeno sistema estelar solitário, composto por um exíguo número de objetos estelares que orbitam entre si de acordo com a força gravitacional exercida. 12 planetas e 24 luas totalizam o total da área. Dois planetas habitados – Lagash (com uma área de 460.200.000 km²) e Uruk ( 510.100.000 km²) –, embora estejam localizados em órbitas muito idênticas, possuem características muito diferentes.
Uruk, está situado numa órbita muito perto da sua estrela mãe, Ori, cerca de 160 milhões de quilómetros. Possui uma atmosfera muito rica em oxigénio. Este hidro planeta é praticamente feito de água, tal é a sua abundância que apenas 5% dele é constituído por solo firme (9 984 970 Km) – na prática um único continente. As estações climáticas são extremas, e podem-se resumir basicamente a duas, cujas amplitudes se situam na ordem dos -5 e 40 graus em média. A órbita que Uruk demora a contornar a estrela mãe, Ori, é de cerca de 5 anos, cujo desenlace se manifesta em duas estações com duração de 2 anos e meio, e, como vimos, muito severas.
Uruk tem apenas um povo – os urukianos, que vivem todos no único continente que o planeta possui, cujo nome é Litag. A sua capital é Lil. Litag é um imenso reino com dono – a Casa Real Kulkoi, comandada pelo poderoso monarca Kaia, que dirige, de forma ávida, cerca de 1 bilião de habitantes.
Os urukianos, em termos fisiológicos e morfológicos, são humanoides altos e delgados. Possuem pés e mãos muito grandes. Têm cabelos e olhos muito escuros e julgam-se os verdadeiros descendentes dos gayences – aqueles que há muito tempo colonizaram a Galáxia Antrax. São «puros» guerreiros, competitivos e maçudos, sendo a sua natureza, bélica por natureza, acompanhada de uma necessidade de conquistar tudo e todos.
O planeta Lagash, por seu lado, está situado numa órbita mais próxima, a 108.200 milhões de Ori, órbita essa que dura cerca de 1 ano e dois dias. Ao contrário de Uruk, Lagash possuiu pouquíssima água. Neste planeta, apenas se pode viver nas zonas próximas aos polos, com temperaturas que rondam, em média, os 37 graus. Para além dessas zonas, rareia o oxigénio e outros gases prevalecem, a par de temperaturas severas que podem atingir os 80 graus. Em Lagash, fora da zona dos polos, existem oceanos de ácido sulfúrico e de metano. A actividade sísmica e vulcânica é, ainda, intensa, graças à influência das suas duas poderosas luas de pedra – Mio e Cila.
Os habitantes do planeta Lagash, apesar de ser constituídos por vários povos e várias pátrias, espalhadas pelos dois polos, estão unidos, pois possuem a consciência da irmandade que representam enquanto planeta, e em alerta permanente contra o invasor comum: Uruk. Na zona norte do hemisfério existem dois grandes continentes, Mona e Loana, com prevalência populacional em Loana (1 234 510 Km), cuja capital é Saltia, pois Mona, embora muito vasto (2 278 320), situa-se no extremo norte do planeta e muito perto do polo. Apenas na zona da capital, Geria, se pode viver, pois as condições atmosféricas são muito instáveis, com abundância de fortes nevões e chuva feita por vezes de água doce. Mas outras de ácido sulfúrico, o que acontece com frequência e de forma inesperada. Nos dois continentes acima do equador vivem 2 biliões de seres. Abaixo do equador, e em parte do polo sul, existem três continentes: Numia, Treia e Falti. Apenas Treia tem civilização, Falti e Numia, que no total perfazem 2 121 330 km, são terras desertas e povoadas por expatriados, nómadas, excluídos e foragidos ao regime. Em Falti e Numia não há praticamente água doce. Treia por seu lado possui belas cidades, cuja capital é Leipa. Os continentes acima do equador são dominados pelos Urukianos, que são os colonizadores. Abaixo, existe a resistência aos Urukianos. Apesar de ter pouca água é um Planeta muito rico, e muito cobiçado, em minério, sílica, metano, adianto, pedras preciosas, etc.
Os lagashianos são genericamente baixos e entroncados, e têm cabelo e olhos castanhos. Muito combativos e muito engenhosos. A sua civilização é contudo média. Apenas agora começaram a dominar a Era dos Motores, nomeadamente o poder da energia magnética.
Os dois planetas do Sistem Garin – Uruk e Lagassh – são governados por dois sistemas políticos muito diferentes. O poderoso planeta-reino Uruk, que tem colónias em Lagash. Enquanto que o hemisfério sul do planeta Lagash, que é independente de Uruk, é formado por uma complexa federação politica, envolvendo partidos políticos e um parlamento, representativos de todos os povos que o habitam.
Epilogo III
Sistema planetário Metha
Sistema Metha. Situado num extremo da galáxia, este sistema planetário é ainda considerado jovem e único em toda a região. Encontra-se localizado no último braço, na sua parte mais externa, a cerca de 10 000 anos luz do rebordo da mesma e a 25 000 anos-luz do seu centro. A sua singularidade prende-se com o facto de o sistema Metha, com cerca de 8 planetas e 20 luas, pertencer a um sistema designado de binário. Assim, os planetas dividem as suas órbitas por uma ou ambas as estrelas. No caso, os planetas dividem-se entre orbitar a estrela maior, Or, uma anã laranja, e Rip, uma anã vermelha com metade da massa da sua irmã. Enquanto que as estrelas anãs laranjas têm uma longevidade muito grande, superior mesmo às estrelas tipo Sol, as anãs vermelhas, por possuírem uma massa baixa, têm também uma temperatura à superfície muito baixa. Estas estrelas emitem uma frequência de luz também baixa, o que equibra todo o sistema.
Estas estrelas «inundam» as madrugadas e os entardeceres dos planetas de uma forma muito especial, e alguns destes planetas possuem mesmo um centro gravitacional comum às duas estrelas, e desfrutam, por isso, de uma aproximação curta à estrela. Este facto permite-lhes auferir de temperaturas capazes de proporcionar vida, e, ao mesmo tempo, de estarem muito protegidos dos ventos cósmicos e da mortífera radiação estelar, ao contrário do que acontece, por exemplo, com os planetas que pertencem a sistemas planetários únicos. É o que acontece com o planeta Larsa, também conhecido por Zorzia. Embora o sistema Metha tenha 8 planetas de média dimensão e cerca de 20 luas, apenas aqui existe vida consciente. Este é, de facto, o lugar mais insólito de toda a Galáxia, pois o povo que habita Larsa é o único que é autóctone da região e apresenta, em termos fisiológicos e morfológicos, grandes diferenças face aos planetas colonizados pelos descendentes da Galáxia Via Láctea.
Larsa/Zorzia, possui 4 grandes continentes, a saber: Fazia, Dezal, Piz e Zal (cada um com áreas a rondar os 280 000 km). Em Fazia, está situada a capital do planeta, denominada de Zar.
Os quatro continentes encontram-se unidos numa Federação, e quatro governos e uma Assembleia Geral governam o planeta. Este enorme corpo celeste, com um raio aproximado de 24 000km, é, sem dúvida, o maior planeta habitado da galáxia, embora apenas uma pequena porção seja de terra firme, sendo o restante território fortemente povoado por estranhas «arvores» embebidas num tormentoso pântano de areias movediças. Graças ao gigantesco arvoredo que pulula todo o planeta, o clima é genericamente temperado, apresentando amplitudes térmicas muito semelhantes em todos os territórios. Também designado por «planeta paraíso», possui em abundância água e recursos naturais diversos. Larsa/Zorpia é o único lugar da galáxia que não foi colonizado, sendo, como dissemos, a vida consciente de origem local, muito diferente dos seres dos outros planetas. A sua atmosfera é maioritariamente de dióxido de carbono, facto importante, pois este fator ajudou, no passado, a conter as tentações colonialistas. Todos os outros povos que habitam a galáxia necessitam de equipamento que permita a respiração. A densa vegetação planetária produz a cor preponderante do planeta, um delicioso tom esverdeado.
Em termos morfológicos, os larsanianos fazem-nos lembrar os velhos sapos terrestres, com pernas e braços delgados, enormes bocas e três olhos esbugalhados. As suas mãos são instrumentos preciosíssimos, e vê-las mexer em algo é como assistir a um pequeno bailado. Muita pouca coisa se sabe sobre a sua civilização e tecnologia, aparentemente desconhecida. Na Guerra Entre Mundos – a primeira guerra entre os planetas habitados na Galáxia, que ocorreu à cerca de 1 500 anos, e causou uma terrível devastação que quase levou à extinção desses povos – os Lagarhianos adotaram uma posição de simples autodefesa, criando um perímetro de segurança impenetrável em redor do planeta.
Epílogo IV
Sistema planetário solitário Olag
Por seu lado, os planetas Sargon e Enlil pertencem ao sistema planetário solitário denominado Olag, um sistema moribundo, cuja estrela mãe, Pali, que já foi uma raríssima estrela gigante Azul, e é hoje uma supernova, se encontra numa fase de radical de transformação interna, moribunda. Esta gigantesca estrutura encontra-se localizada no último braço «escuro», na sua parte mais interna, a cerca de 15 000 anos luz do rebordo da mesma e a cerca de 30 000 anos-luz do seu centro.
A estrela Pali está prestes a definhar, pois está a transformar-se numa supernova, um processo lento que ainda demorará alguns milhares de anos. Assim, este sistema está seriamente ameaçado, facto sabido e muito estudado pelas várias entidades que povoam os dois planetas habitados (o Reino de Sargon e a República de Enlil), e que dependem do calor de Pali. Este facto constitui-se naturalmente como um momento de grande stress, e esteve na origem da Guerra Entre Mundos. Para além dos dois planetas habitados, este sistema possui ainda sete outros globos ao redor de Pali, mundos muito quentes e cuja estrutura interna oscila entre a liquefação e solidificação rápidas.
É difícil falar de Sargon sem o compararmos com Enlil, uma vez que os planetas se apresentam quase como gémeos. Para além de estarem situados em órbitas muito próximas, Sargon (com um diâmetro de 10 000km) é um pouco mais quente que Enlil (apresenta um diâmetro 8 000 km). Existe um momento especial, de 40 em 40 anos, em que os planetas quase se tocam, e em tempos de abeiramento entre os dois astros, celebrava-se um grande festa, pois ambos podiam ser vistos a olho nu com muita nitidez.
Se Sargon é um planeta caracterizado pelos enormes desertos que o percorrem, de lés a lés, com amplitudes térmicas muito elevadas, Enlil, embora sendo muito semelhante a Sargon, é contudo um pouco menos arenoso, mais temperado, e possui uma densa área florestal.
Sargon possui três grandes continentes: Fuli, Garnephia e Garzophia, sendo neste último local situada a capital do Reino Gharsolia. Estes quatro continentes perfazem os apenas 30 % de solo firme do planeta. Sargon tem duas Luas, Sate e Fer. Ao todo 2 biliões de seres o habitam este corpo.
Por sua vez, Enlil possui cinco continentes com uma dimensão média de cerca de 200 000 km cada, a saber: Numit, Bool, Deni e Aregon, que é também o nome da capital da república. Enlil não tem luas. E por isso os territórios banhados pela água não são habitados, devido à instabilidade marítima em que se encontram. Pouco de 1 bilião de seres habitam o planeta.
Em termos políticos, Sargon e Enlil são muito diferentes. Sargon é um Reino, governado implacavelmente pelo Rei Raza que, como acontece desde sempre com todos os reis de Sargon, deriva a sua condição de um direito conquistado numa batalha pancrácica.
Enlil, por seu lado, é uma república, em termos formais, porque na realidade é uma oligarquia dominada pela corrente mais populosa do planeta – Os Mir. Entre estes, o presidente da poderosa União Enliliana – Geni Rezu – conduz os destinos do planeta com mão de ferro. Existe ainda um senado, que é na realidade uma estrutura assaz imperial, e o lugar de encontro de todas as facções do planeta.
Ambos os planetas têm recursos muito limitados, facto que se tem refletido no ambiente hostil que persiste entre ambos.
Epílogo V
Sistema Arrastal
Por fim, o planeta Ur faz parte de um complexo sistema planetário múltiplo – ARRASTAL –, no caso triplo. Encontra-se localizado num braço intermédio da galáxia, a cerca de a cerca de 60 000 anos luz do seu centro. Os Sistemas estelares múltiplos são sistemas compostos por mais de duas estrelas. No caso, Ur tem três estrelas mãe – Ali, Meta e Fot.
Devido ao facto de Ur ter de obedecer a três ordens gravitacionais, e embora a estrela Ali, uma gigante amarela média, seja aquela cuja força se faz sentir de forma mais premente no planeta, o facto é que este é muito instável, devido, por vezes, à aproximação de uma de suas companheiras, durante a qual o planeta recebe uma aceleração extraordinária. Apesar de tudo, Ur orbita em torno de um centro gravitacional comum às três estrelas. Assim, de ano para ano, podemos ter tempestades horríveis, vulcões medonhos e mesmo mudanças de temperaturas agrestes, mas também períodos paradisíacos com dez ou quinze anos de duração, ou mesmo décadas de frio ou de temperaturas extremamente altas. Instável é o termo correto para definir o clima deste local. No presente momento, Ur está a passar por um momento que podemos designar por edílico.
Seja como for, em virtude de se encontrar numa orbital especial, a multidiversa luz que o irradia proporciona ao planeta a existência de vida abundante, rica e diversa, quer nos seus extensos oceanos, com estranhas criaturas, ou no solo, com incríveis formas de vida. Ur é um basicamente um enorme hidroplaneta (com um diâmetro de 100000 km) e não possui continentes. Apenas enormíssimos vulcões que saem para fora da água, elevando-se por vezes a milhares de metros de altura. É justamente no interior dos vulcões que se encontram as cidades e vivem as pessoas de Ur.
No princípio, ainda antes do êxodo dos habitantes da Via láctea para a Antrax, Ur foi uma colónia penal de Larsa /Zorzia, o tal povo indígena da galáxia. Mais tarde, após a colonização da galáxia, este planeta foi tomado pelos Urianos, que são primos emancipados dos Urukianos, do distante Sistema Garin. Aquando do final do conflito da Primeira Guerra Entre Mundos, Ur voltou a ser um planeta independente. Atualmente, Ur é uma Confederação extremamente bélica e agressiva, e defende uma união entre o sistema Garin e o sistema Arrastal. Larsa nunca viu com bons olhos esta tomada do seu território, e tem reclamado a posse do mesmo, bem como também a existência de determinadas zonas de proteção para planeta, que excluam a presença de larsianos, considerados terroristas pelo poder vigente.
No maior vulcão do planeta, Troll, com um diâmetro de cratera à volta dos 70 km e com uma caldeira de 800 km cúbicos, encontra-se a atual capital, designada de Nova Litag, que não é mais do que uma antiga cidade Larsiana desativada e remodelada. Aliás, a maior parte das cidades que se encontram no interior dos vulcões foram edificadas pelo povo de Larsa/Zorpio.
Capítulo I – Lua Cheia, lua Vazio
Planeta Ur. Ano estelar: 10.200. O capitão Ror está de licença de férias. Encontra-se em companhia do seu filho Rur que completa hoje 6 anos de idade. Espreitam por um comprido, largo, e potente telescópio. Observam um minúsculo ponto de luz no firmamento – a Via Láctea, uma galáxia em forma de espiral, ainda muito bonita e muito reluzente. O filho, Rur, pergunta: – Como se chama aquela zona, ali, muito brilhante Pai? – Apontando com o dedinho.
– É o sitio de onde todos nós somos originários. Bem, quase todos. Viemos para aqui há milhares de anos, e agora habitamos esta galáxia que é a nossa Nova Casa.
– E os Larsanianos?
– Bem, querido, os larsanianos nasceram aqui. São autóctones. – Explica o Capitão, e continua – Outrora a Via Láctea foi uma galáxia cheia de vida e com um planeta que provavelmente foi a origem da maior parte da vida conhecida no Universo. Um pequenino planeta azul, chamado Gaya. Hoje, essa galáxia está moribunda e os seus mundos encontram-se em profunda agonia. Outrora cheia de vida, hoje um profundo cemitério.
O que o capitão Ror não contou ao seu filho foi o episódio dramático perpetuado aquando do abandono do planeta moribundo Gaya. As Nações Unidas, naquele tempo, tiveram a incumbência de liderar todo o processo que envolvia a total evacuação do planeta, deixando para trás aqueles que eram considerados perigosos ou mesmo hostis para a própria Humanidade. Este processo, que envolveu milhões de seres humanos, que desta forma ficariam privados da aventura do repatriamento da espécie humana, foi conduzido durante muitos anos. Este monumental esforço residiu na tentativa de minimizar os erros ao máximo, nomeadamente não causar um grau elevado de injustiça, pondo-se, deste modo, ao serviço desta enorme tarefa muitos recursos, mas ao mesmo tempo tornando o processo muito complicado de gerir, dando inclusive origem a conflitos entre nações. Por fim, foi consensual libertá-los em todo o planeta, contudo limitando o acesso aos recursos que ficaram para trás. Em virtude desta deliberação, os sistemas tecnológicos foram destruídos, incluindo a disseminação energética, as telecomunicações os transportes, etc.. No final, os que ficaram depararam-se um clímax anticivilizacional.
Lá longe, no minúsculo ponto de luz observado por Ror e seu filho, ainda hoje decorre uma batalha pela sobrevivência sem tréguas. Gaya tornou-se um mundo de chuvas ácidas e temperatura extremas, uma atmosfera com muito pouco oxigénio.
Sistema Olag. Hoje é um dia especial, porque, depois de vários anos de guerras fratricidas entre Sargon e Enlil, os planetas habitados do sistema, vai-se, pela primeira vez, tentar cimentar um armistício de paz, empreendimento complexo que se quer longo e útil por ambas as entidades que comandam os respetivos Mundos. A cidade mais importante de Sargon, e que é simultaneamente a capital do Reino – Gharsolia – está engalanada, com as suas enormes torres forradas com paredes de vidro. O traçado retilíneo, que se perpetua vezes sem conta pelas ruas e avenidas da imponente cidade, é a imagem de marca deste burgo. Em Gharsolia tudo parece ser artificial, e há muito que não se vê qualquer espaço verde. Contudo, a metrópole está cheia de cor para receber o presidente da poderosa União Enliliana – Geni Rezu. O senado real, uma estrutura assaz imperial, é o lugar do encontro. O Reino de Sargon é liderado por Raza, como acontece desde sempre com todos os reis de Sargon, direito conquistado numa batalha pancrácica, homem a homem, sem tréguas. Luta tradicional, sem armas e até à morte, que lhe deu acesso ao trono. Durante 20 anos, os monarcas sargoncianos, após conquistarem o poder, têm todo o respeito do povo. Findo esse tempo são desafiados, e decidem se partem para o exílio ou lutam de novo pelo poder. Esta noite, aparentemente, está tudo calmo, pois é preciso receber, e bem, Geni Rezu, o presidente da poderosa União de Enlil.
Em Enlil, que não está politicamente organizado em forma de reino, tratando-se de uma União parlamentar, conseguida através da manutenção no poder de um partido político único, que há muitas gerações se perpetuou no poder. Os seus lideres pertencem a uma peculiar e seleta oligarquia que, com braço de ferro, comanda as hostes. Geni Rezu, pouco dado a conversas, foi educado numa instituição militar, alcançando o grau máximo ainda de tenra idade. Ficou famoso pelos atos particularmente atrozes que cometeu, ainda jovem, nas duas guerras onde participou.
As comitivas diplomáticas juntam-se numa enorme mesa de carvalho. Nas pontas da mesa estão os lideres, e de cada lado os assessores prontos a auxiliar, ou a suprimir, caso qualquer necessidade surja. Embora este encontro estivesse programado há muito tempo, e muitas reuniões tivessem tido lugar como preâmbulo, o ambiente que se respira no compartimento real é denso. Sargon e Enlil são diferentes em tudo. Desde logo, os povos que habitam os planetas não podiam ser mais antagónicos fisiologicamente.
Os enlilianos, de pele muito clara e com olhos translúcidos, sondam os sargoncianos situados na outra ponta da mesa. Muitas batalhas com resultados demasiado sangrentos impõem-se ainda, e de lado a lado não faltam conselhos e conselheiros que tentem em vão demover o presente encontro.
CONTINUA...