Imagine-se um rumor que se eleva e se torna presente. Este será um número atento às vidas não-humanas. Para além, ou concomitantemente, às várias declinações ético-estéticas da presença dos animais e plantas na arte, a sua convocação enquanto trabalhadores, artistas ou participantes involuntários em várias modalidades de performatividade museográfica, que tem pontuado a história da arte, a questão da ocupação da visualidade/auralidade, a presença/ausência de outras espécies companheiras na arte, é pertinente. Considerando a imagem técnica e a sua semântica (Arnheim referia que a panorâmica é um olhar 'caçador', que assinala uma subjetividade predadora) e o enquadramento do mundo natural no campo da arte, propomos pensar os seus desvios e descentramentos antropocêntricos e a dicotomia entre cultura e natureza. Propomos imaginar as potencialidades de uma rede simbiótica entre os vários habitantes do mundo e o que se pode eventualmente descobrir nesse encontro.
Susana Mouzinho