«Pinturas más» partem de uma correspondência com a tradição da pintura má (mais própria da Alemanha dos anos 80) – contestada em artistas como Albert Oehlen (serie ‘bad’ paintings) ou Martin Kippenberger (serie Invention of a joke) – e a instância que é o momento físico de um sujeito sobre um suporte físico (a tela e a marcação que se faz nela). Em concreto, este paralelismo só se efectiva na condição da mudança simbólica que une os dois campos – a relação estrita entre o «neoexpressionismo» com a procura ou rejeição do simbolismo e o momento em que uma marca é adicionada ou retirada do suporte. As imagens desenvolvem-se com base numa reflexão crítica sobre o contexto social e político do modelo predominante de sociedade. Uma sociedade ocidental globalizante, em que a imagem domina maioritariamente o espaço da cultura, que se inscreve num tardo capitalismo, e é pensada a partir dos seus elementos particulares. Esta análise é feita através da representação de uma simultaneidade de espaços, que pretende estruturar de um modo simbólico um conjunto de relações. Esta rede baseia-se na intenção de elaborar as imagens, que em função de uma ideia ou tema, possam ser sobrepostas ou conjugadas em função de uma certa noção de abstracção da imagem figurativa. O tipo de registo, em que a justaposição serve como método de esconder ou revelar os vários espaços diminuindo o índice de hierarquia pictórica – retirando a perspicuidade geralmente associada à pintura do mesmo «género» – vai questionar, de um modo entrópico, o modo de existir em que «o tudo é nada, e o nada é tudo». Este prelúdio de abstracção – marcado por uma disparidade de imagens a que se refere a época da sobrevalorização estética – distingue uma certa característica existencialista – uma atitude existencial (que é, talvez, um dos principais fundamentos do movimento de contra-cultura). É assim necessário alcançar um resultado que perceba a inviabilidade da decoração, e «desumanidade ou aridez» da abstracção e do narrativismo da figuração – um confronto entre a pintura ilusória, como imitação da natureza e uma bidimensionalidade que não cede o seu espaço ótico e esta relação entre estes dois campos, que à partida já está condenada. É esta impossibilidade ou indecisão que, de uma outra perspectiva, permite a quebra de convenções e garante uma maior autonomia estética. A direcção deste trabalho é a de pensar o binómio forma e conteúdo, desconstruir estas questões e procurar um resultado que encontre a sua totalidade (que viva ou sobreviva) a partir de uma ideia fragmentada. Assim, estes objectos que são pensados num conjunto de fases que se complementam abrem uma questão que ultrapassa a ideia de pensar o nosso mundo através da sua extensão.