poderia citar _________________________
mas o que está ou quem está à parte sempre
se atrelou a mim. Saturno saberá melhor
o que a solidão atropela no tempo;
pessoas sozinhas
cujas palavras não conseguem ser encontradas/
mercenários eletrizados pela sua existência à espera da próxima/
extremistas e românticos de todo o género/
gente virada de costas por pensar de frente
exaltados aparentes de tudo
com o mundo comedido a passar rente ao semáforo
de janela fechada.
com o franzir de sobrolho,
com o riso nervoso,
com o silêncio de cortar
com o abismo no meio da ponte dinamitada entre_
quem está à parte encontra-se em toda a parte;
existem a experimentar a realidade
sem medo, testando ou a serem testados pelo
o oráculo da repetição.
encaixar é trabalho para o conformismo, dizem
recortar pelo picotado,
decorar o passado
mas volta atrás,
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porque nada está de facto à parte;
tudo espera apenas mais atenção
até ser visto e incluído
amado e sabido
esperado e compreendido.
O meu trabalho fotográfico desde sempre refletiu uma profunda necessidade de trazer à luz o que pertence à sombra. A dualidade inerente a ser-se humano exige um constante exercício de empatia que nem sempre é possível; todos nascemos com âncoras e mares que muitas vezes não nos pertencem. São viajados em companhias que conseguimos identificar pelo hábito e não pela conexão.
Aprendemos a amar e a odiar de igual forma, por isso creio ser de vital importância identificar cada um pelo seu âmago e não por qualquer referencial.
Ao longo de 14 anos de trabalho fotográfico 5 foram ocupados por 2 projetos cujos temas refletem a conexão com o outro através da viagem, da empatia e da espiritualidade que ora encontramos no caminho com a nossa sombra, ora com a sombra dos outros. Se no primeiro livro «With the Absolute Heart of the Poem of Life» quis escavar uma dimensão escondida dos poetas da Beat Generation, cujas vidas encontraram sentido na comunhão e transcendência, o segundo foi ainda mais a fundo abordando como ponto de partida a casa 8 no espectro astral. Divinação: um tema tão tabu como um grupo de adolescentes à deriva por uma América conservadora (sufocada mas sempre multíplice) mas que alcança novas profundezas através da forma com que são retratados o nosso inconsciente, a sexualidade, a capacidade de regeneração e a morte. Os corpos são veículos de histórias difíceis de serem contadas, desejos bloqueados, medos não partilhados, mudanças que ao longo do tempo e espaço operam cirurgicamente e fazem de nós quem somos. De facto, ao expô-los, expus-me como quem começa uma conversa. Que quis que continuasse, porque comecei a fotografar para partilhar e agradecer a quem na solidão percebeu que o mundo só demorou um pouco mais a chegar até si. Que não correu em direcção à medida certa.
Afinal, nada exagerar ou excluir dura mais que uma existência a deslindar.