Situada no centro do Palácio de Cristal, Torre Latinoamericana constitui o ponto zero e a peça central da exposição individual de Damián Ortega, El cohete y el abismo, formada por três peças, onde expõe modelos arquitectónicos e urbanísticos através de várias referências, alusões e analogias a projectos e paradigmas modernos que eclodiram e falharam no século XX. Todos eles monumentais, símbolos do progresso tecnológico e económico, em alguns casos idealizados para sobreviver aos abalos sistémicos. No cenário de vulnerabilidade e de incerteza presentes, abre-se um espaço de interpretação sobre o tempo, o peso e a gravidade, as tensões e as resistências, os equilíbrios e as oscilações dos sistemas.
Com uma escultura mole instalada num cabo de aço suspenso a partir do ponto mais alto da cúpula do Palácio de Cristal, por excelência o modelo arquitectónico reproduzido e multiplicado no mundo ocidental no século XIX, Torre Latinoamericana, constitui por seu turno a revisitação de um modelo exemplar da arquitectura moderna mexicana e da engenharia do século XX, a Torre Latino, desenhada por Augusto H. Álvarez entre 1949 e 1956, à imagem do Empire State Building (Nova Iorque, 1930-1931).
Construída como versão miniatura desse edifício que foi durante largos anos o mais alto da cidade provido de um sistema anti-sísmico, Damián Ortega transforma a sua torre invertida num pêndulo e num relógio de areia, cujo depósito liberta grãos que desenham trajectórias imprevisíveis no chão do espaço através do movimento pendular. Ao final do dia, um funcionário recolhe cuidadosamente a areia espalhada no solo, peneira-a e armazena-a no reservatório, iniciando-se um novo ciclo a cada manhã, como num trabalho que se repete indefinidamente.
Em Monumento a suspensão não dá lugar ao equilíbrio mas à queda, mantendo-se contudo a flexibilidade do material, neste caso uma escultura de lona de treze metros que afunda numa pequena área de areia no solo, à imagem do naufrágio do Titanic e com referências irónicas às esculturas flexíveis de grande dimensão de Claes Oldenburg e aos projectos e estruturas de escala colossal que definiu como «propostas realistas-fantásticas», idealizadas juntamente com a sua mulher, Coosje van Bruggen, a partir de objectos de uso comum.
Fundamental para contrapor à verticalidade das peças anteriores um sentido de horizontalidade e de integração mais difusa no espaço é Los pensamientos de Yamasaki, uma investigação artística sobre o complexo urbanístico Pruitt-Igoe do arquitecto Minoru Yamasaki – também arquitecto do World Trade Center –, um projecto construído no pós-guerra em Saint Louis, que na década de setenta foi demolido. Edificado entre 1953 e 1955, num local onde vivia, em condições de extrema pobreza, uma comunidade negra, o seu nome homenageava um piloto afro-americano que combateu na Segunda Guerra Mundial e um político branco. Idealizado inicialmente como uma estrutura onde existia a divisão entre comunidades, negras e brancas, a lógica que prevaleceu foi o ideal moderno de uniformizar e eliminar da sua concepção a especificidade individual, a singularidade familiar, política, moral, em benefício do colectivo. Construído por fases, o projecto chegou a ter trinta e três edifícios, de 11 pisos cada. Todavia, com cada vez mais prédios, atingindo 2870 apartamentos, o sentido de comunidade acabou por desvanecer-se e a falta de manutenção do espaço comum, público, tornou inevitável a sua decadência. Com uma instalação formada por painéis de textos e imagens serigrafados, retirados de fontes históricas, Damián Ortega constrói uma narrativa fictícia sobre a reacção do arquitecto à destruição do complexo, ocorrida por decisão estatal em 1971, cruzando a sua decepção com uma outra história de insatisfação repetida, narrada com a presença de objectos de época comprados em mercados de segunda mão, caídos em desuso pela passagem do tempo e aqui apresentados tendo em pano de fundo as imagens sedutoras dos anúncios que os publicitavam.
Com três exemplos de projectos do século XXI, Damián Ortega recontextualiza e traduz, em fortes imagens e formas plásticas, a decadência e o fracasso dos ideais, dos objectos e das estruturas, mas também dos sistemas modernos, cujo poder simbólico continua a fazer-se sentir. E apesar da presença marcante das suas peças e dos seus dispositivos de instalação, a imagem mais forte desta exposição permanece invisível: a passagem inexorável do tempo, os ciclos contínuos de eclosão e decadência, de construção, destruição e reconstrução.