A repetição é fundamental à constituição do formato. Um formato torna-se tão mais perceptível e estável – e dominador – quanto maior for a sua escala (literalmente, o seu tamanho) e frequência. Para aqueles que aspiram à mudança de cenários opressivos, altamente reguladores, autoritários (ou simplesmente monótonos), a realidade da repetição é uma evidência da impotência em alterar, reinterpretar, expandir, desmobilizar, redefinir… e de modo dramático, a incapacidade de sonhar e imaginar novas possibilidades. Essa dificuldade da imaginação ocorre por uma dificuldade produzida pela estabilidade, pelo excesso da estabilidade, do possível.
Se há realidade da vida social onde isso se traduz de modo evidente, será na realidade económica; na pouco esperançosa e difícil capacidade de se conseguir antever uma nova economia e uma nova finança baseada na distribuição de recursos e consolidação do bem-comum, em detrimento da acumulação de capital enquanto dispositivo de organização e controlo social. A situação parece inescapável.
Imaginação às voltas (2016) cria uma sequência interminável de substituições. No centro das imagens pode-se ler a frase «tax shelter». É esta frase que se retira e coloca sem parar, onde a única operação fixa é o anunciar da própria proteção do imposto, a restituição da economia e da finança. Todos os outros elementos que vemos no espaço reduzem-se a composições, abstrações, desumanizadas, estéreis de imaginação.
As imagens foram criadas a partir de um instante fotográfico capturado durante a desmontagem do trabalho OXT do artista Kevin van Braak, apresentado no Sonsbeek 2016 (evento artístico que tem lugar em Arnhem desde 1949, contexto que apresentou projectos de incontornável referência como a exposição The uncanny de Mike Kelley).