2 imagens. Fotografadas por volta das 00h00 do dia 21 de Junho de 2016, em Miðvágur, ilhas Féroe. Solstício de Verão.
A primeira imagem é de exterior. Desenho sobre habitação. A representação basilar de uma figura humana, ladeada pela grafia obliquamente desajeitada – SÓL – que, em conjunto e apesar do acento, não deixam de evocar, por simplista associação, a efígie de Ré num divertido ângulo frontal. Numa esquina, tudo pode acontecer.
A segunda imagem é de interior. Trata-se de uma sala do museu militar, situado defronte à habitação da primeira imagem, curiosamente aberto, mas desocupado. O museu acolhe um parco arquivo fotográfico relatando a invasão dos ingleses às ilhas durante a Segunda Guerra Mundial. Este movimento militar serviu, sem impacto significativo, de estratagema de prevenção, de observação e de ocultação. A disposição dos objectos é memorial: aguarda-se pelo armistício.
Entre estes dois lugares, anuncia-se a inquietante ausência de noite. Violência iminente que deixa tombar os animais fatigados: vêem-se crinas e cascos amontoados.
Suspeito aos poucos, da impossibilidade de qualquer ser humano apreender uma forma sem lhe pontificar os vértices. Convertemo-la em acontecimento ou, quando menos, num recinto semi-aberto, inconsútil.
Prossigo levantando as pedras na confessada expectativa de te reencontrar, restituir o amor. Rever a minudência dos teus gestos na colocação da agulha sobre o vinyl. Música industrial bem tocada – aço e água. São também estes os elementos dos portos nórdicos, matéria de prospecção.
Nestas ilhas não se pescam peixes, pescam-se pássaros, que ainda jovens e inábeis lançam-se em patética valentia, para logo caírem no mar onde, inadvertidamente, flutuam até à morte. Divino castigo!
Nesta repetição da espera pelo evento, urge a oportunidade dos gentílicos feroeses, sem rendimentos para mais, baixarem os seus barcos e recolherem nas redes os pássaros ainda quentes para repasto familiar.
A premonição confirma-se: por baixo da contundência, o sub-reptício. Essa face fria e verde, que assinala o lugar dos seres inertes. Criaturas fétidas que sustentam o peso cárneo, sacrificando o céu pela terra, a noite pelo dia.
Nestas ilhas não se pescam peixes, pescam-se pássaros. Os animais tombam, a noite não.