Sobrevivência dos pirilampos (Survivance des lucioles) é um texto crítico de Didi-Huberman (2009) sobre a força proveniente das unidades de produção alternativa vs. as grandes forças luminárias das indústrias criativas. No texto, o autor descreve os lugares de excepção desta produção que hoje aprendeu a utilizar a economia contra a própria economia, a partir da metáfora e natureza dos pirilampos[1]. Estas são algumas das analogias propostas:
— ser capaz de escapar às grandes turbulências, ter liberdade de movimentos, ser errante, nómada ou ter um forte coeficiente de desterritorialização;
— ser fugaz, discreto, marginal, intersticial, intermitente, um «estado de excepção» à «feroz luz do poder»;
— ser resultado das circunstâncias da actualidade, mas, em contraponto, procurar contradizê-las ou enveredar por um certo alheamento (calculado) às condições do seu tempo;
— preferir o improvável do que se espera do seu tempo, da sua economia;
— preferir uma parte da realidade, ao entendimento do todo;
— prezar o valor do colectivo, procurar semelhantes ou cúmplices numa comunidade dispersa, diversa, anacrónica e atópica;
— desaparecerem quando colocados diante dos «grandes reflectores»; o que explica, prosseguindo a metáfora, porque se extinguem as manifestações contracorrente quando assimiladas pelas tendências do seu tempo.
Um pensamento contracultura define-se por resgatar as diferenças face ao seu tempo. Com tendência para «organizar o pessimismo»[2], entre acção e pensamento constroem imagens para «protestar contra a glória do reino e os seus feixes sólidos de luz.»[3] Esta é uma posição política, a partir de um posicionamento distinto: através da estética, procura-se retirar da política todo o seu discurso político aparatoso.
Footnotes
^ Metáfora que remonta a Dante na sua Divina Comédia ou ao texto de Pasolini, «L’ articolo dele lucciole» («O artigo dos pirilampos»).
^ Benjamin citado por DIDI-HUBERMAN, Georges. (2009). Survivance des lucioles. Paris: Éditions de Minuit.
^ DIDI-HUBERMAN, Georges. (2009). Survivance des lucioles. Paris: Éditions de Minuit.