«Cambeck» de Binelde Hyrcan, filmado numa praia na Ilha de Luanda, em Angola, tem como figuras centrais quatro crianças a brincar numa construção na areia — a qual recria um veículo de transporte colectivo comum em Angola, conhecido popularmente por candongueiro. Nesta viagem de ficção, elas actuam como passageiros e motorista, imitando um diálogo popular e estabelecendo entre si uma conversa viva e emocional que nos prende, não apenas pela forma divertida e aparentemente inocente como interagem no seu jogo, mas também pelo retrato nu que constroem de aspectos vários da sua existência quotidiana, relacionados com a economia e a política, com a desigualdade social e os fenómenos migratórios, as dificuldades de habitação, de transportes e de educação na sociedade angolana. Poderoso pelo seu significado e narrativa, assim como pelo modo como emprega a ironia para tratar questões sociais complexas, o vídeo envolve-nos rapidamente numa acção e situação lúdica que tanto expressa o poder e a força da improvisação e da ingenuidade infantis, como o necessário engenho e o contínuo sentido de sonho, superação e resistência exigidos pelas realidades mais duras e sérias de muitos contextos sociais. Imagem da realidade angolana, este é um retrato simultaneamente mais vasto que espelha o problema da precariedade e da pobreza de muitas comunidades, assim como as migrações e a actual crise dos refugiados.