Qualquer movimento artístico desde o séc. XIX tem um manifesto: é necessariamente panfletário, radical, refundador, desafiam os artistas que antecedem, estabelecem intenções preferencialmente absurdas, indignam-se furiosamente com o mundo, dizem que o que fazem é completamente novo, defendem a arte como a única coisa que fica das civilizações (razão têm aqui alguma ...) e o nome acaba geralmente em «ismo» (em inglês «ism»). Seguindo esta tradição, os Zuturistas (Manuel Vieira, Pedro Portugal e Pedro Proença) apresentam – literalmente – aos gritos durante 20 minutos uma colectânea de textos/manifestos que chamam Almanach Zuturista. O que é o Almanach Zuturista? O Zuturismo opõe-se ao Futurismo e a todos os outros manifestos artísticos por declarar que toda a arte é contemporânea e que não há história – e portanto não há arte do passado e muito menos arte do futuro. Que não há boa e má arte e que há muita arte que já existe (pré-arte) mas que ainda não é arte!!! «Estamos a fazer Arte para Nada porque a Arte não é Nada» (We are only making Art for Nothing / because Art is Nothing).
ULTIMATUM ZUTURISTA ÀS GERAÇÕES DO SÉCULO XXI E MAIS ALÉM
Mandato de despejo às maningâncias do planeta e aos artistas incompletos que se fecham cada um na sua artolas artinhas, poéticas de cantinho sem vistas nem baluarte para o infinito-mais-infinito!
1. Fora! Fora tu, receituário de existir pra fóra cá dentro (haja quem te analise com manhas homeopáticas), lombriga da finança com ketchup na pança e directores de instituições anafados, salada melhor nos gestos vergastados de literatos em loiça de plástico a fazer lembrar todas as vidas falsificadas!
2. Fora tu, Pascal Quignard, pseudo-feminista engatatão com latins mal-traduzidos a encobrir a oval delicada da Acção e freudismos de pacotilha sempre a fazerem-se interessantes, a quererem ser levados a sério, e a misturar no mesmotacho o facho Bataille e o hebreu Benveniste!
3. Fora tu, Villa-Matas de paredes nuas, rosto sem conseguir disfarçar os requintes alcoviteiros de palco do francesismo de exquisitos da sua alma de eleição com patilhas rapadas, cartaz, bolor dos subúrbios, adeleiro do velho e sympathico realismo maravilhoso a contrabandear drogas, com mortos sempre outros, vestindo a pele de lobo dos paes sem filhos, suicidados precocemente na inveja de fecundidades e comércios, dadaísta dos snobes a reciclar vanguardas com guardanapos de limpar o cu!
4. Fora tu, Rushdie das almas renegadas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de cabelos brancos a andar sempre atrás duma gaja boazuda de élites esquerdistas anglo-saxónicas, reles snob plebeu de castas elevadas a fingir sem casta a cheirar a chamuça de porco com Ayatolas a chatear, andas a abardinar e advinhar os pensamentos patetas e fissuras literárias por onde corre o pus!
5. Fora tu, Jeff Conas, constante mau-estar que encobre a mercadoria wharholiana, homem-balofo da pintura porno-chachada, imperialista todo fino de espírito a reciclar sucatas, épico de icones imperialistas com caralho em decomposição, e quem não te conheça que te compre, pobre rafeiro da tecnologia de grande escala!
6. Fora tu, Damien Hirst, com cunhas na Sothebys, inclinando-se vegeteriano nos paradoxos, charlatão da insinceridade sobre o joelho, baixo tumor frio do duchampianismo, arranjista das visitas pra desculpar a sem intelectualidade inesperada, barra de chocolate enfiada no recesso anal de si mesmo.
7. Fora tu, desobediente civil, que idolatrizas o embuste Thoreau, esse beto de Boston a fazer incursões marotas nas matas (mas jamais para viver lá sempre!), ficcionista de terceira a imitar Rousseau, amigalhaço baço dos transcendalistas, tão puritanos, sempre rodeados de carradas de criadagem que lhes aturavam as manias e o mau-feitio.
8. Fora tu, pacifista, seguidor de Ghandi, incitador cínico a mais problemas e a outras violências e cujo ego sobrepassou de longe a minguada pila, sempre a trabalhar para pio, a trasandar a alho, obcecado pelo poder, a dormir nu com a sobrinha só porque lhe dava gozo a tentação, a dar ordens para arrasar Khajuraho e a impor uma castidade demente a quem lhe dava atenção!
9. Fora tu, Dalai Lama, politiqueiro do confuso, carnívoro confesso que não mata bicharada (ó hipocrisia!) e cuja merda é santificada e vendida a peso de ouro! Tu que te esforças por manter uma vasta elite monacal que vive à custa dos miseráveis, que lhes segue os bens em troca de bençãos! Qual é a tua política pois quanto a libertação afinal já que não vives mesmo nada mal?
10. Fora tu, heideggeriano, a traduzir mal e a cheirar a asneira da asneira da essência da essência da essência, essa confusão de ângustia com estilo pastoral a ser barrada por um rançoso patê de Ser, ó confusão sempre a dar no Mesmo do Mesmo, Tontologia a treslêr pré-socráticos, mistificação Teutónica desavinda a passar por cacarejar hermeneutico de merda intraduzível.
11. Fora tu, acólito de Nietzsche, o do eterno retorno das dores de cabeça e de espasmos de imoralismo inútil, sôfrego sublimador entre pânicos de vacas, Dionisos da Impotência a dar marteladas tontas na mesa, rancoroso denunciador do rancor a babar-se numa cadeira pra doidos, ao menos foras o Superlírico de que Zaratrusta foi a tentativa desastrada e patética.
12. Desanda também ó tu que persegues o prémio do Turner, esse Bife tarado sempre à cata de afogadas no Tamisa só pra lhes desenhar (o camafeu!) o cú e o pito em decomposição! Caralho!
13. Fora tu, Vasconcelos de Barcelos, caso Kitsch e Camp a estarrecer os punditas políticos que preferem gastar os cofres da nação em apocalipses estéticos, empaturrando-se no espelho da inanidade. Lembrai-vos! Também Lenine, Hitler e Estaline deixaram legados desastrosos. E a história jamais vos perdoará o terem apostado numa pileca anafada em vez de velocistas prá eternidade!
14. E vós cientistas, energúmenos imperfeitos, sempre falíveis e perpetuamente refutados, mestres do equívoco, do crime perfeito, da hipótese caricata, esgoto da actividade humana, produção em perpétuo up-to-date destinada ao esterco civilizacional. Comparadas convosco até obras de arte menores serão recordadas. Sumi, ó cosmologistas, astrofísicos, a debitar tangas sobre o Universo, sugadores de milhões para o CERN, a dar conta do incerto, de energias tenebrosas e peçonhentas, de tal forma que não sabemos se fazemos parte de um mundo, de nenhum ou de vários.
15. E vós também, jornalistas, bestas do mundo mediático, chamar-vos mentirosos ou incompetentes é bondade. Manipuladores ao serviço dos poderes económicos mais rascas, desinformadores engiordurados, baratas, percevejos, pedantes convencidos que sabem tudo em menos de um fósforo, ratas sábias aziadas, opinadores do fácil, falhados do difícil, autores de vastos refugos de romances que só dão vontade de vomitar.
16. Fora tu, ó Guedes do ressentimento e por antifrase Valente, vómito de comentador a dar cabo dos ecrans, tirando da cartola e sem graça o insulto fácil, case study de figadeira superlativada! Só não sumes desta choldra porque lá fora não vales nem um chavelho!
17. Vade retro, ó badamecos do Quinto Império com saudades lambusadas de um glória que nunca tivemos e com uma fome horrorosa do que nunca haveremos de ser. E mesmo o Pessoa, perdoai-lhe, nunca garatujou sobre o assunto antes das 5 horas sem que uma boa pinga do Martinho lhe pesasse no buxo, o que, convenhamos, quanto a prognósticos, não só não é lúcido, como uma garantida cagada com avença!
18. E vós, epigonos do Saramago, esse superpateta, vingativo, perseguidor, onanista a complicar emboscadas ninfas, camarada das conveniências que lhe saiu o Nobel na taluda! Livrai-nos das Pilares e dos parágrafos ininterruptos que nem são falas de povo nem um escarrapachar interessante dos fluxos da consciência.
19. E vós historiadores que fazeis ficção científica do retrogrado, sois tão bons a ladrilhar os documentos do passado quanto os escritores de sci-fi a acertar nos pormenores do futuro! Fora! Fora!
20. Desopilai também, ó carraças da Filosofia, professores do incompreensível, especialistas do abstruso, hienas da sageza engalfinhada em departamentos universitários sem alunos, intrigas e salário certo. Pindéricos, exangues, coxos do conceito, inutilidades boas para alimentar Cães e Quimeras.
21. E tu ó badameco politicamente correcto, fazes marotices às escondidas e chamas puta à tipa com quem vais para a cama, puritano da moral do choucroute com letra de doente, coitado! Merda!
22. Fora tu Agamben, hebreu a piscar o olho ao papado, com côdeas de stilo nuovo e Heidegger escalfado! Andas a pôr de novo o ovo da Origem nas espécies de arte quando o que te apetece mesmo é vestir peles e embebedares-te com putas finas numa orgia com gajos do poder e da finança! Cabrão!
23. Fora tu, Billy Collins, poeta monocórdico a fingir-se saloio numa penthouse em Manhattan, com a dôr de saber que serás epígono de corno, ideativo de gesso, saca-rolhas desolado das ironias que não pode remediar com slogans de papelão a garrafa da Complexidade e os barquinhos ao fundo.
24. Fora tu, Obrist, pseudo-anarca a pasteurizar a ressaca em bienais de anormais! Padreca dos comissários transformados em curadores, curandeiros, prestidigitadores, barril de radicalidade subsidiada por governos e banqueiros, a apanhar pielas com artistas emergentes e a beber Moets e Chandons com muito mais gente.
25. Fora tu Zizek, a arrotar calão lacaniano com jargão estalinista, com adiposidade estalinista e balelas padrecas de Lacan, pateta da dialéctica em calão com o horror nos olhos e um cagalhão na mão; sabatina de fato-macaco para intelectualzito ver e artista se conformar na casa de banho da intiligência a espairecer em abomináveis raciocínios das neves em shopinha de massa!
26. Fora vós benjaminianos de terceira a suicidarem-se numa banheira! Fora vós foucaultianos, deleuzianos, por fim, com o nexo caosmológico a pescar arqueologias, com a divina profanação ao léu na prisão das tias! Fora vós barthesianos desmodados com o cú a saír das calças e o amor delicodoce a foder putos marroquinos. Fora vós, ò simulados braudillardianos, com a sedução na gaveta e a chupeta na boca! Fora tu Danto, mais morto que a arte e que o raio que te parta, fora tu, com cauda de pavão cheia de merda de cão!
27. E tu intelectual vulgar, jornalista, cronista, televiseiro, fugindo-te do braço com um tregeito foucaultiano, fogão do Mistério apagado! E tu, souple post-estruturalista, onde coxeiam as picuínhices dos herdeiros de Barthes, sopa azeda, requentada no micro-ondas de uma nem por isso pós modernidade!
28. E tu, enfado, a fechar-se por dentro do espectro rizomático do Deleuze-ze-ze-ze-ze-ze-ze-ze-ze com pandilha universitária a apunhalar-se sem orgãos, mas a serem chupados! Ou não! Ou bem ou mal, tanto dá.
29. Fora aí, ó pseudo-néo-surrealista sem o ser com moralite a achar que o Débord é bom quando é um grande parvo e chato, que não chupas caralhos aos magalas ou camones nas latrinas de Santa Apolónia como o Cezariny, que amas as inanidades de trolararó, pedófilas e tudo, do Luís Pacheco, e a realidadezinha maravilhosa ou não, e a loucura dos outros desde que não seja tua e o lado sórdido da masoquista mansidão alfacinha! Vá lá, embebeda-te e dá uma foda manhosa numa pensão! Porra!
30. Fora! Fora! Fora! E se houver outros no seu quarto pra escrever uma carta de intenções que faltem à pro-vocatória: procurem-nos aí pra mudar de toilette ou de canto! Tirem isso tudo da minha frente! Fora no lá fora pra outra qualquer coisa em que tivesse a ver com isto tudo!
31. Fora! Aí ! Quero forçosamente ficar livre disso nem que seja num sózinhismo longe de quem quer que seja.
32. Que fazes tu na celebridade, Angela Merkel na batota do poker, n’este teu hábito de Alemanha unida a contar tostões de empréstimos, canhota e maneta de braço levianamente antypathico, com orifícios ao lado do cú, chanceler sem tampa a estorvar a luz no firmamento das finanças, espreitando atónita o lume das desgraças alheias?! Empurra o teu ministro das finanças para um precepício que é o melhor que podes fazer já!
33. Quem és tu, barata nos jardins às escuras, socialista europeu liberaloide, a privatizares à balda, a sentires-te uma barata tonta no desnorte dos neo-fascismos emergentes? E tu conservador burlão com horror aos kebabs dos emigrantes, mas que frequentas importadas putas argelinas nas orgias só para relaxar do duro métier das finanças e das poliriquices!
34. E tu, comuna por tradição, com Marx na prateleira e controlo operário de chá velho bolorento, dentadura postiça, muitos portantos e pás, verdadeira cassete dos direitos dos trabalhadores a qualquer instante vinte cinco de abril sempre em frete.
35. E vós, politiqueiros oportunistas de batina maçon ou eclesiástica, fatia de Lisboa a fritar ovos de corrupção com patetice a barrar a elegância de manteiga rançosa, dignidade caída no chão com péssimas razões e a contá-las plos dedos com o corpo atolado em coisas horrendas?!
36. E tu, amante abandonado e estimado que dizes que ela voltou pra ti com outro, com todos os outros, açorda cantabile moderata com mafia a afiançar e ameaças ao seu perfil no facebook estylisado, nobreza da incompetência ante os factos todos onde transparece a glória badocha de estadistas acanhados na sua imbecilidade embevecida!
37. Todos! todos! Co’os olhos poisados na cigarreira longa de todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem, prata fôsca reluzente sobre o panno intelectual! Cambada de chefes de estado, verdes de vergonha cor de meza de snooker. Nhanha de incompetentes e ao léu, barris de lixo finório, muito bem, c’o a prima a lamber o olho do cu à madrasta! E pouco a pouco virados pra baixo, à porta como dois astros perdidos no infinito da indignação com itálicos, aspas e bardamerda pró fascista!
38. Tirem isso tudo das nossas trajectórias, antecipadamente traçadas para lá da frente! Tudo daqui para fora! Desopilem! Ultimatum a eles todos, pois várias vezes o tinha presentido, e era inevitável que mais cedo ou mais tarde saíssem como dejectos de prudências afiançadas. Desapareçam caralho! De que vos vale ficar como peçonhas da nulidade enamorados do abismo e encartados na conivência.
39. Falência em mim, de ti, dos outros, de ninguém, de quem quiser e vier, dos empenhados, dos nihilistas, dos libertários, dos funambulos, dos encartados, dos terroristas. Falência dos povos numa tela de cinema com um torso de ansiosos destinos dinamitados – falência total e fatal! Desfile das modas na intenção de vício. Alta custura a fazer-se passar por prêt-a-porter a aguardar o meu Desprezo! Tu, ambição, pra me compreenderer melhor a comer uma italiana e um cão de colo chamado Estaline, a ver porno-chachadas na TV!
40. Tu, franciu, não era porque te duvidasse desse «esforço de ser francês», galo depenado, sem generosas mamas de Mariane, escanzelado, bom para canjas de ganda canja. Nação ungida pela ignorância de já só ser o diletantismo de não ter importância e o ar afectado de uma linguagem embasbacada num enjoo enamorado de inúteis subtilezas e banais ambiguidades – mais um porta-aviões nuclear e automóveis que ninguém compreende.
41. Tu, cultura alemã, Esparta de merda na constituição de famílias, pernil de porco azedo com azeite de cristianismo e vinagre de nietzschização podre, colmeia de lata – aquilo afinal era mas era o transbordeamento imperialóide de servilismo engatado com organização e bunkers e filósofos a chuparem caralhos uns aos outros!
42. Tu, Áustria-súbdita, venéreo da alma com ressentimento a tagarelar e música de Mozart a disfarçar. A abominar a mistura de sub-raças, com bigode de Hitler a ser psicanalizado, c’oa batente de porta e séries abaixo de C.
43. Tu, Bélgica a feder a diarreia de caniche, sem heroísmo e raiva subsidiada a vir a ter também força em Museus em revenda: limpa a mão à parede com uma geração mais nova, com os teus velhos surrealismos e conceptualismos mijados pelo Meineken piss. Brilha no que nunca foste! Livra-te rápido dos Magrites e dos Broothaers de terceira!
44. Tu, escravatura russa, com tirano garantido no Kremelin a gelar as idiotias da Europa. Curte esse Pudim na neve de olhos como duas origens luminosas alucinadamente azul desmaiado e bombas de emigrantes tchetchenos, libertação de mola desoprimida com radiação nuclear. Ainda te lembras do ócio revolucionário dos construtivistas? Não pois não?
45. Tu, «imperialismo» espanhol com sangria e tapas, salero que não se illumina para lá da política, com toureiros de sambenito com ganas de génio a aperaltar fodas com a bicharada e picassadas al ajillo. Tudo muito pintura al óleo e cristos pirosos a escorrer toneladas de sangue para os ovários de uma putamadre! E excedes-te em poses expontaneamente mascaradas de almas ao voltar da esquina e excêntricas a transcrever os deslocamentos abstratos das qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
46. Tu, dynamismo interior sem alma dos Estados Unidos da America, síntese-bastarda-burguer que se exprime subordinadamente plo vestir baixa-Europa, alho da açorda transatlântica com Hollywood a lamechar, pronúncia e conter-se num defeito congénito. Monocordismo do oh yeah no Eu anasalado do modernismo inestético! Great, big, amazing, wonderful, terrific, huge e outros adjectivos que cagam tudo, vomitado de pchisbeques, tudo em ti é retórica de um tesão falhado, sublimação em grande dimensão de inexistentes intensidades. Continua a perseguir esse teu sonho de imbecilidades provincianas de americanices do caralho limpo com merda.
47. E tu, Portugal-cêntimos, tantas vezes excomungado por este resto de enésima República a apodrecer em nostalgias de Revolução ou Fascismos, injustiça de Deus nos ter feito extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na degradação do homem, e mais ainda por essas guerras com vergonhas naturais por ter colonizado África e ter zarpado enquanto o diabo esfrega um olho! E infâmia de Deus ter nascido igual como a ele mesmo, farrapo sublimado de tralhas infinitas e picuinhíces de ego com tradições folclóricas.
48. Tu, Brasil «república irmã», blague de portuguez com telenovelas a sodomizar países irmãos com lamechices “legais” – já me transpões em regosijos de Pedro Álvares Cabral, que nem nesta realização prática queria descobrir globalização nenhuma!
49. Recolhei as nódoas do mundo, vós que sois literatos a mamar nos mamilos de moiras e nas correntes literárias europeias, vós que alastrais concavamente em espasmos de heroinomano ou coisa a qualquer outra coisa que o valha neste maelström exageradamente de danças de cachimbo. Ah, o velho de chá-morno das receitas dos manifestos! Homens-altos de Europa-Fractal, passai por entre as barbas piolhosas do meu Desprezo!
50. Passai nos bambús cheios de pó, vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseosos de cocaína, pó e sol. A arte abstracta do não era, reverso da medalha da impotência e do porém, pois não é assim tão facil criar a valer!
51. Passai, frouxos que tendes a necessidade desmanchada de serdes os que já nem sequer são istas de vanguardas antiquadas, filhos feitos em fanicos de métodos com próteses e video-tesão!
52. Passai, radicais do Pouco, incultos do Logo, do Depois, do Não-há-pachorra, atraídos instantâneamente por um Avanço, que tendes a ignorância por íman luminosamente-sexo que vos desconcerta a audácia. Vós abraçais o movimento da belleza ambigua doidamente-hélice-toilette. Curtis a impotência por esteio das neo-teorias e da carreira desengonçada!
53. Passai, gigantes do outra vez não, num passeio, o arco-íris de formigueiro, ébrios da vossa personalidade ao cubo do cubo até ao fundo dos filhos burguêses às vezes, com a raios X pra lá do cavalo mania da grande-vida roubada na dispensa transparente n’uma continuidade cinematográfica contornando a paterna hereditariedade desentranhada dos apologia feminina sagradamente epilética em ss nervosos!
54. Passai, esterco epileptóide sem grandezas, histeria-lixo azuladamente assexuada. Os olhos recolheram-se-me prás nadegas roliças nos bas-fonds dos espectáculos, senilidade social do conceito dentro de um estertor illuminado a passear a individualidade de mais uma juventude perdida!
55. Passai, bolor do Novo, escândalo afogueado e ruivamente doido de mercadoria em mau estado desde o artificial coroado pelo apocalipse situacionista. Quando voltei outra vez havia restos de um cérebro esmigalhado com peças de origem enferrujadas por cima!
56. Passai à esquerda, servos das cartas registadas, anemia dos «sistemas filosóficos», abjurados no pentagrama azul a elipsar-se em marotismos persas.
57. Passai pragmatistas do defeito mínimo a levar estalos em qualquer das faces. Jornalismo metafísico com opiniões a mais e dados a menos. Passai! Apenas a côr capricha em embirrar com comissários de exposições, com chatos nas negociatas altas desta Europa-Mundo-Total.
58. Passai, terabites da Ambição, passai, provisórios, quotidianos, artistas na ofensiva de uma carreira à grande graças a um empreendedorismo manhoso, sempre a roçar nos jantares-convívios dos políticos, estilo lightning-lunch, servos empoleirados do saldo bancário, abominadores dos prazeres da Ocasião!
59. Passai, putas finas do Carnaval-egypcío. A luz espalhou-se igual pelas sensibilidades esotéricas, anódinas, pela falta de espinha dorsal com kundalini a maroscar. Passai, construtores civis, coquetes de café, intelectuais de esquerda a ir a conferências nas universidades, a frequentar a Cinemateca para vos achardes culturalmente superiores nessa passividade.
60. Passai, cerebrais dos arrabaldes, intensos devotos da abstracção encartada, do conceptualismo descoberto num curso para radicalismo numa sub-universidade. Talvez que o pentalfa azul seja a tua esquina-de-rua, o teu gigôlo que gasta a guita no teatro de revista, que mais vivo serias do que um mero onanista?!
61. Inútil luxo, passai, vã grandeza ao que fôsse geometria transgressora tambem ao alcance de todos, megalomonia triunfante por toda a parte de ser mero aldeão da Europa-aldeia!
62. Vós que confundis o estar só com os relações entre números, onde se infunde o humano com o popular, onde a espontaneidade pede para pular. Vós curtis vértices onde o Eu é frenético.
63. Passai, pretendentes a melhores dos melhores, pretenciosos balofos, demiurgos de meia-tigela, alarves lambareiros no arame equilibrista das cunhas para mais uma retrospectiva, lords de serradura, senhores feudais da quinta da asneira, com tiradas adjectivadas para ver se o sublime pega e impressiona.
64. Passai, romantismo póstumo a mudar-se para o tal lado dos liberalões de toda a parte, animado quadrado em chicóte brutal de classicismo a beber álcool dos fetos, zig-zag e eco de zinco, equestre Wittegenstein, dinamismo dos Whitmans a subir o degrau em brouaha-gallope d’inundação-néon. Completamente igual a si mesmo, a bater a porta, pedinte da inspiração sem origem a dar conta de que a luz é sempre forçada, cabeça oca que faz barulho com a face hipotecada voltada para o Absoluto, ó tão altivo e brejeiro.
65. Passai, cultores do hipnotismo em casa, com as duas faces voltadas para mim – dominadores da vizinha do lado, caserneiros dentro do mesmo bairro e com a Disciplina que não custa nem um chavelho dos vértices a magoar o que cria!
66. Passai, tradicionalistas auto-convencidos, neo-benjaministas deveras insinceros com o centro do crâneo acêso em deboche existêncial, pseudo-radicais a invocar as suas prelecções burguesas pra dentro. Tabaco de Espanha e qualidade de trabalhadores a quererem deixar cinta belladona e fôgo de negro batuque ao trabalhar! Rotineiros da revolução, passai!
67. Passai de Loanda a Cabinda Zona Equador = eugenistas, organizadores de uma vida de 40 graus à sombra, La creolita, la lata, SSs da biologia aplicada, neo-mendelianos, novia del toreador *Terre Sienne Brulée* da incompreensão sociológica!
68. Passai, vegeterianos, teetotalers, calvinistas, tweeters, parêdes que desabam sobre outros, kill-joys do neo-imperialismo, chão atapetado de vanguardas com coninhas dentadas, quarto pretencioso sobejo!
69. Passai, amanuenses do «vivre sa vie» em azul cobalto. Quando desabarem as quatro paredes de botequim extremamente de esquina ficareis com ganas de outra revolução.
70. Passai brechtianos para outros estranhamentos, que o tecto já era Bernstein-Bataille a ser empalado vivo no círculo caucasiano e azul do palco! Tango de sem castas, fosses tu e sem chão. Sucediam-se juxtapostos hieroglyphos a esgadanhar no minete!
71. Passai, absolutamente, passai! Vinde vós, ó syntheticos de expressão immediata extraídos pelo Asco. Esponjai-vos na liberalidade e frontalidade de expressão.
72. Roça-te tu e roja-te, impotência a frases resolvidas, que isto de seres sôfrego archiva-se em profundidade a fazer barulho!
73. Roçai-vos, mísseis tele-guiados declamando a incapacidade, a maldição da humanidade condenada a mais ambição entre guerras inter-estelares, prolongamento indefinidamente-desesperado da noção do instante, mais inteligência destrutiva-creativa do que bombas! Roçai-vos com a equação-lama da infâmia do cosmopolitismo que os outros andavam à caça de zêbras com poetas do vento que passa.
74. Proclamem bem alto o que é d’imprescindível importância. Será que alguém ainda combate a valer com bombistas ganas pela liberdade ou se emancipa a sério sem ter por guia um monge zen frustrado ou outro guru de estimação? Todos combatem por medo dos outros ignorando a vertiginosa medicina das cores! Quem acredita nos outros? Descasquetem o rebanho inteiro! Mandem o perigo perpendicular pra casa descascar batatas! Amanhem-se no casebre circumscrito ao círculo das agruras simbólicas! Lavem essa celha de mixórdia inconsciente! Atrelem o diâmetro da terra a um deus suicidário! Ponham uma superficie exgotada quotidianamente em razão subjectiva. Usai a coleira para controlar as cóleras!
75. Ressurreição de tudo por causa da esfera que contém tudo em toda a parte a transvazar a todos!
76. Ressurreição de tudo por intensidade cerebral do chymico inovadoramente timbrado, cubo ríspido mais metallismo boche completo, de um modo total, piramide com o lado ligeiramente torto de um modo integral e suprematista-infraísta: MERDA!
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Manifesto publicado no livro ALMANACH ZUTURISTA, Manuel Vieira, Pedro Portugal e Pedro Proença, apresentada em performance no âmbito de P! REINVENÇÕES 2017, a 14 de Abril de 2017, no Teatro Municipal São Luís, Lisboa.