Do poder supremo de Zeus à emergência das tecnologias fotovoltaicas, a noção irradia mil raios e toca muitos dos aspectos das nossas civilizações, dos mais arcaicos e imateriais aos mais concretos, actuais e inovadores. Ela evoca a condição primordial da vida terrena em todas as suas formas, como também os ciclos permanentes da natureza. Evoca a deidade de múltiplas faces que personifica a estrela solar (a Amaterasu xintoísta, o Rá egípcio, o Inti inca...), os cultos antigos e os ritos dramatizados de celebração aos solstícios, ao renascimento da força vital, à exuberância da vida e da fertilidade (germinação). Inseparável do astro nocturno que reflecte a sua luz, a sua presença e ausência ritmam o dia e a noite, a vigília partilhada e os sonhos solitários. Do ponto de vista filosófico, a noção refere-se à manifestação do visível, à norma e à clareza diurnas ligadas ao exercício da razão, à sabedoria apolínea do «conhece-te a ti próprio», assim como à praxis. De um ponto de vista da consciência moral, a luz é sinónima de limpidez e de verdade, não no sentido de um dogma, mas no de justeza, da transparência do verdadeiro contra a opacidade do engano, da duplicidade e da manipulação. Refere-se ainda à estética do belo, do luminoso, do sublime, e também à iluminação mística. Se sempre deve haver escuridão para revelar o quanto a luz pode ser brilhante, está presente em todos os lugares e, mesmo nos tempos mais obscuros, sabe afastar as sombras quando elas se tornam demasiado ameaçadoras. É inseparável do acto artístico, que, em todas as suas nuances de chiaroscuro, a sua vibração e o seu dinamismo jubilatório, dá à luz a novidade.
Para comemorar o 100° aniversário do único número da revista RONGWRONG de Marcel Duchamp, publicada no Verão de 1917, esta edição da WRONG WRONG abre-se ao solar!
Katherine Sirois