A maior parte das fêmeas dos mamíferos e animais de outras espécies incubam ovos fertilizados de esperma – uma combinação de proteínas que gera vida. Outras proteínas podem destruir a vida, deteriorar processos metabólicos e de comunicação em células e neurónios (por exemplo a placa proteica que surge na doença de Alzheimer). Sendo uma das fontes de proteína comestível mais simbólicas, os ovos de galinha também servem como veículos para vacinas contra várias doenças contagiosas. Numa parte do meu trabalho recente, os ovos de galinha são referentes a proteínas numa maneira geral. Formas escultóricas feitas principalmente de clara de ovo, que mudam com o tempo, representam proteínas geradoras de vida ou simbolizam a criação de uma hipotética obra artística. Mais especificamente, eles podem também representar a potencialidade de uma obra de arte em processo de realização, sugerindo a incubação de um ovo fertilizado num antepassado – dando vida a uma futura geração que pode completar a obra de arte – ou começar a sua construção desde o início.
MAKH, a minha avó materna, gostaria de ter ido para uma escola de arte. Enquanto viveu, nós nunca falámos sobre disso – de facto nunca falámos muito. Aparentemente ela não só tinha pintado, como possuía uma máquina fotográfica dos anos 1920, algo não muito comum naquela época. A sua família era proprietária de uma padaria na cidade de Frohse na Saxónia-Anhalt. Em 1926, quando ela era ainda jovem, o seu pai de repente desapareceu, talvez tivesse deixado a família por outra mulher. A razão desse desaparecimento nunca foi falada com outros membros da família. Por conseguinte, MAKH teve que ajudar a gerir o negócio da família e trabalhar na padaria. Os seus sonhos obliterados entre ovos, açúcar e farinha… A ligação com as minhas obras de arte com açúcar [«Um Sobre Açúcar»], relacionadas com a família do meu pai, torna-se neste momento evidente: em 1926, quando desapareceu o meu bisavô, numa outra zona da Alemanha, nasceu o meu pai (Miles Davis, Marilyn Monroe, Allen Ginsberg, Fidel Castro e Michel Foucault nasceram no mesmo ano). Mais tarde, MAKH deu à luz quatro filhas. IAAW, a mais velha, nasceu em 1933 (como também Yoko Ono, James Brown e Susan Sontag, só para citar alguns). Quando IAAW, depois de toda a sua família ter sobrevivido à Segunda Guerra Mundial, expressou o seu desejo de ir para uma escola de arte, foi impedida de o fazer por causa da situação financeira da família: sendo refugiados, tinham perdido a sua terra natal, o trabalho e o dinheiro durante o conflito. Em vez disso, em 1949, ela frequentou a «Escola para Donas de Casa» e trabalhou durante cinco anos como ama e educadora de jardim de infância, até casar com o meu pai.
Há mais sobre o ovo da galinha: a clara do ovo é uma parte da têmpera de ovo, uma técnica clássica de pintura, a variedade de têmpera mais comum. Enquanto a têmpera em geral ainda é usada (quase tudo é, até certo ponto, ainda usado em algum lugar deste planeta), a têmpera de ovo era uma técnica comum na Antiguidade Tardia e na Idade Média, antes da introdução da pintura a óleo. Além disso, o ovo de páscoa é um objecto no qual as noções de proteína como fonte de alimentação, as tradições rituais e religiosas e a produção de obras de arte se encontram.
Só desde 2012 me situei de uma forma consciente na sequência dos meus antepassados MAKH e IAAW, e até agora construí estas obras de arte com ovos: «The Unworks of MAKH» (2015), uma escultura instalada no chão sobre um suporte metálico ortogonal, feito de ovo moldado com um secador industrial, que se transforma com o tempo. É uma referência às obras não realizadas pela minha avó e parece-se como algo entre uma experiência química, equipamento de campismo e em certa medida uma escultura não conseguida. «One of His Phantoms» (2016), é uma série de fotografias a cores de ovos cozidos com as cascas partidas, a clara e a gema projectando-se. As fotografias foram tiradas imediatamente após a fervura, e novamente passados três dias (o que corresponde ao tempo entre o suposto enterro e a ressurreição de Jesus Cristo). Nestas imagens, cada um dos chamados «fantasmas» refere-se a incertas concepções de lugares, entidades, emoções, experiências vividas pelos meus antepassados, que os tornaram aquilo que foram, que mo transmitiram através dos seus comportamentos ou acções.