Durante séculos, o pão de açúcar costumava ser a forma habitual do açucar refinado ser distribuído e vendido. Há fontes que referem que os primeiros relatos escritos sobre pães de açúcar no mundo árabe datam da Idade Média. Durante o século XX, o pão de açúcar quase desapareceu na maior parte dos países europeus (de facto, em Outubro de 2016, algumas pessoas na Irlanda nunca tinham ouvido falar dele), mas é ainda um dos elementos principais de uma bebida tradicional alemã feita de rum, vinho e especiarias, chamada «Feuerzangenbowle», particularmente popular durante as últimas semanas do ano. Esta bebida é celebrada com a queima do pão de açúcar ensopado de rum num recipiente de metal, sendo uma ocasião para reuniões sociais e familiares.
A primeira queima de um pão de açúcar que dirigi, ocorreu em Agosto de 2012 durante uma visita à cidade de Schladen (Baixa-Saxónia, Alemanha) [imagem 1]. Esta serviu como um ritual mágico humilde ligado directamente à familia do meu pai. Schladen foi onde o meu pai nasceu e onde o seu pai e alguns dos seus familiares faleceram. Além disso, uma fábrica de açúcar está localizada aí.
Devido à sua forma de cone, o pão de açúcar é obviamente um objecto fálico. Para o ritual, escolhi um lugar junto dos carris da linha férrea que atravessam Schladen, que teoricamente poderia ser visível desde o prédio onde o meu avô morou, como do outro onde faleceu, e também da fábrica de açúcar. Tanto o meu o pai como o meu avô, morreram de demência. Entre os vários factores que poderiam ter causado esta doença, estão os seus regimes alimentares que poderiam ter tido uma importância vital. Tanto o açúcar refinado como o álcool, que aqui é usado para queimar o cone de açúcar, são substâncias que podem indirectamente causar a demência. Estas substâncias foram queimadas, reduzidas, e o resultado escultórico do processo foi deixado na paisagem a deteriorar-se. Quase nenhuns sentimentos de compaixão, amor, integração ou pertença tinham sido transmitidos de parte da família do meu pai, de modo que o ritual da queima do pão de açucar (com base em associações subconscientes: calor, doçura, inebriamento/embriagamento, o aconchego, as características locais da fábrica de açucar), era uma tentativa de restabelecer ou provocar alguns desses sentimentos positivos.
O ritual foi realizado uma vez mais numa gruta perto de uma aldeia na Renânia-Palatinado em Dezembro de 2014 [imagem 2]. Um excerto do vídeo gravado na ocasião foi mostrado no cenário controlado de uma galeria de arte, em complemento a uma escultura real de pão de açúcar queimado («Sugar»), instalada numa chapa de acrílico montado na parede, que funcionava como um pedestal. Esta peça fez parte da exposição individual «A Magnet Between Proteins and Sugar», realizada no Sismógrafo, no Porto, entre Fevereiro e Março de 2015 [imagens 3–5]. Esta escultura foi mostrada mais duas vezes, em Dezembro de 2015, em Darmstadt, na Alemanha, na exposição individual «Fantastication» na Fenstergalerie Will e em 2016 na exposição individual «Phantoms» na MART Gallery, em Dublin, na Irlanda [imagem 6]. Todas as vezes, o pão de açúcar foi queimado no dia da inauguração, no pedestal. Na Irlanda, o metanol foi colorido de violeta de genciana para poder identificar sem perigo o álcool metílico nocivo. Este elemento deu um novo sentido estético à obra e deverá ser apresentado em futuras instalações da peça.