Uma estrada qualquer, numa época qualquer. Nesta estrada, veículos, animais de carga, alguns cavaleiros, estalagens, uma forja, uma aldeia, uma cidade. Não se pense que se trata de uma linha frágil, por mais vagamente marcada que pareça, segue um trajecto fixo mesmo nas pampas argentinas ou na Sibéria do século XVIII. Transportadores e viajantes são prisioneiros de um leque limitado de opções: talvez prefiram um itinerário a outro para evitar uma portagem ou um posto de alfândega, a menos que tenham de lá voltar em caso de dificuldade; seguem determinada estrada no Inverno, uma outra na Primavera, conforme o gelo ou a lama. Mas nunca podem renunciar às rotas previamente organizadas. Viajar, é recorrer aos serviços de outrem.
As mercadorias viajam sozinhas.
Nota: 50km de estrada foram roubados pelo director de uma prisão da Sibéria. As 7000 placas de betão armado foram vendidas em benefício pessoal. Na quarta-feira o director da prisão foi detido e acusado de apropriação indevida da propriedade estatal no exercício de funções públicas, o que pode resultar numa pena de prisão de 10 anos.
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As Depressões do Mediterrâneo
Os maciços hercínicos em camadas, os desníveis alpinos em negro, as linhas brancas indicam a direcção das cadeias de montanhas. A Sul, a plataforma saariana em branco rodeia o Mediterrâneo da Tunísia à Síria. A Leste, as fendas tectónicas do mar Morto e do mar Vermelho. A Norte, as planícies em branco, intra-alpinas, ou extra-alpinas. O pontilhado marca o limite mais distante dos antigos glaciares.
Local: Ouro Hotel, Azambuja.
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Lenço de Assoar
O luxo tem pois muitas faces, conforme as épocas, os países ou as civilizações em causa. Pelo contrário, o que nunca muda é a comédia social, sem princípio nem fim, de que o luxo é ao mesmo tempo moldura e tema, espectáculo favorito para sociólogos, psicanalistas, economistas, historiadores. Claro que é necessário que os privilegiados e os espectadores, isto é, a massa que os contempla, assente numa certa conivência. O luxo não é apenas raridade, vaidade, é sucesso social, fascínio, o sonho que os pobres um dia realizam fazendo-o perder imediatamente o seu antigo brilho. Escrevia há pouco tempo um médico historiador: «Quando um alimento que foi durante muito tempo raro e desejado chega finalmente ao alcance das massas segue-se um aumento brusco do seu consumo. Dir-se-á a explosão de um apetite há muito tempo reprimido. Uma vez vulgarizado (no duplo sentido da palavra: ‘perda de prestígio’ e ‘difusão’), esse alimento em breve perde os seus atractivos [...] e segue-se uma certa saturação». Os ricos estão portanto condenados a preparar o futuro dos pobres. Afinal, é a sua justificação: ensaiam os prazeres de que as massas, mais cedo ou mais tarde, irão apoderar-se.
Local: Pinhal da Azambuja Nota: Longe vão os tempos em que se dizia frequentemente «vai lá roubar para o pinhal da Azambuja», quando alguém tirava alguma coisa a outro ou levava um preço alto por qualquer artigo ou trabalho. Talvez a frase venha do tempo em que eram frequentes os assaltos nas estradas e caminhos, por bandos de assaltantes.
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Escaravelho Vermelho
De quando datam as primeiras Bolsas? Quanto a este ponto, as cronologias podem ser enganosas: a data de construção dos edifícios não se confunde com a da criação mercantil. Em Amsterdão, o edifício data de 1631 ao passo que a Nova Bolsa foi criada em 1608 e a antiga remonta a 1530. Temos pois muitas vezes que nos contentar com datas tradicionais que valem o que valem. Mas não com a abusiva lista cronológica que situa a origem da Bolsa nas terras do Norte: Bruges 1409, Antuérpia 1460 (imóvel construído em 1518), Lyon 1462, Toulouse 1469, Amsterdão 1530, Londres 1554, Ruão 1556, Hamburgo 1558, Paris 1563, Bordéus 1564, Colónia 1566, Dantzig 1593, Leipzig 1635, Berlim 1716, La Rochelle 1761 (construção), Viena 1771, Nova Iorque 1772.
Local: Avenida das Palmeiras, Palácio das Obras Novas, Azambuja. Nota: O palácio servia de estalagem e fazia controlo de tráfego de passageiros e mercadorias que circulavam pela Vala Real ao longo do século XIX. A Vala Real tem uma ligação ao Tejo e está integrada numa rede de canais de escoamento de campos de cultivo de Azambuja e Santarém. 104 palmeiras foram cortadas no início de 2016, devido à praga do escaravelho vermelho.
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«Paragens» são deslocações realizadas de Lisboa até à zona logística do Carregado, onde são fotografados objectos, semi-objectos, hiper-objectos, ultra-objectos e quase-objectos escolhidos nos ateliers dos artistas.