É mais menos assim: tenho quase nada a acrescentar, a não ser, talvez, um recorte no movimento sem fim. Do rosto, o que resta? Um rasto, para lá do espelho. Origem da imagem, ao que parece, nas circunstâncias do corpo. Já falaram de ruínas. Aqui poderíamos falar de rastos, que são restos do puro acaso, na decomposição de composições. É o destino das obras, ao que dizem, para lá do que talvez não se apague nunca. Acresce um gozo qualquer, um gáudio das cores, das formas, de mim. Gerar sombras no rasgar perpétuo da luz, dando contornos discretos ao contínuo esvair dos sentidos. Posso acrescentar o óbvio, afinal. Já é qualquer coisa: aparecer no desaparecimento, como a singularidade ou a memória, como o desejo que nos move na novidade da repetição. Ainda poderia dizer mais, mas limito-me às réstias da noite no brilho do sol.
É um método de passagem, mas sem discurso. Evita-se assim a perenidade em que expiram as palavras. Colado, rasgado, sobreposto, tirado e posto de novo, mas sem intervenção da minha parte. O que resulta de outro tempo, descolado, arrancado, preenchido, saturado e desfeito, sabendo eu, no entanto, que a coisa se encontra sempre já feita, ao desdobrar de cada esquina, na expectativa do inesperado. Reside, pelo menos, na pura surpresa. Um gesto, apenas, para delimitar o inacabado. O mais é registar encontros no dilúvio da informação sem fim, mais ou menos como quem vira urinóis de pernas para o ar pelo puro prazer de atingir o vazio. Das paredes, claro. Sem tirar nem pôr qualquer fantasia, mas no pleno assombro de alguns fantasmas. Do original, fica só o que passou. Retomei os dados lançados sem saber por quem, jogando alguns nomes ao acaso, depois dos de Mimmo Rotella e de Ana Hatherly, com razões diversas e em cidades várias, da Europa.