Saí de casa com uma estranha tristeza sobre os ombros e subi o mais que pude, com esse peso, até ao topo dos montes, carregando uma máquina Polaroid. No nevoeiro, senti que as imagens que me circundavam eram profundamente belas, e, talvez parte da sua beleza, fosse devido à despedida que levava a cabo.
A paisagem disse-me que o mundo iria acabar e que levasse uma relíquia dali, que levasse aquelas imagens para outra dimensão. Sempre com o peso da tristeza, usei as fotografias instantâneas para fixar aqueles elementos: as personagens do desenlace de um longo conto, para serem vistas por um leitor indefinido de outro tempo. Todas as coisas, na sua despedida e resignação, voaram pelo ar, até se colarem à película das Polaroids. As vacas, as eternas escravas do Homem, como diria Sokurov[1], pararam de comer e fitaram-me para aquele momento de posteridade: o Mundo-Belo e o Mundo-Feio iam acabar.
Footnotes
^ «Элегия дороги» (2001) - Александр Сокуров / «Elegia de uma Viagem» (2001) – Aleksandr Sokurov