Nasci dos mormaços do entre serras.
Me fiz olhando o tempo delas,
rodeada nelas e por elas.
Terras, serras, pedras, poeiras-portais.
A quintura borradora e empoeirada
anuncia: aqui o céu é o próprio chão.
«Céu terra norte sul»
«Céu terra norte sul»
«Céu terra norte sul»,
cantou Kulumim-Açu.
serra da Meru, serra do Jordão.
Cidade que treme,
Pedrinhas,
Acaraú.
Serra do Pajé.
Picada,
Poeira,
Intãs.
Reconhecemos a sensibilidades das pedras?
Cátia de França já pr’anunciava
em sua pisada forte e rasteira
Atenção aos dizeres:
prepare os olhos e garganta,
a agonia será tanto
que não dá nem pra imaginar.
Rastejei sob as cercas com os olhos cheios de
terra, olhos transgurados em poros que respiram/
/se manifestam terras, areias, pedras e pó.
Meus olhos rasgados empestaram
as unhas de minhas mãos,
borrando e desorientando minha visão.
Há que ensaiar uma pisada firme,
dar a voadora, dizem.
É saber: terra para o pé, firmeza.
Um pé no chão outro acolá.
Ligeiro e borrador.
Ao contrário do que nos fazem crer,
Olhar pra serra pode ser como olhar pro mar, o
limite e o innito estendidos, estirados sob
o sol quente coexistindo.
O cosmos, o mar, sertão
E ver o mar que existe aqui (à beira)
Subindo a serra
Descendo a serra*
Há quanto tempo ele/ela tá ali?
Descritoras do tempo profundo e milenar,
tempo não-humano, tempo mais-que-humano.
Mudando enquanto ninguém olha,
sua infinitude está nos olhos d’agua
na continuidade que nascem dela rios e riachos,
na sua materialidade sentida imaterialmente, na
sua impermanência visageira e invisível
sua existência teimosa
anuncia o tempo bom.
Pisadas sobrepostas
das camadas de poeira que ora
revelam ora escondem
seus/meus movimentos.
Saber dar uma rasteira rastejada e ligeira
é também sobre: pisar rme e suavemente
sob a terra em seus/nossos/mil tempos.
Em seus pés,
a rasteira do ridimuim
perturba a captura,
diculta a orientação.
Escapa.
Não tem localização.
É ex-visão, ex-ótico,
bendição dos ex-votos
que deixemo em Canindé.
Rodeado pelo breu e suas visagens
sonhei como as aparição que preludia
e atravessa os fins
Mergulho profundo
nos rio-cacimbá.
–
* Fartura (2020) by Kulumin-Açu.