Spectrum Awareness é o trio constituído por Inês Carincur (electrónica e voz), João Pedro Fonseca (loops e visuais) e João Valinho (bateria). O projecto, que viria a integrar o colectivo da editora ZABRA, nasce no final de 2019 a propósito de um convite para apresentar ao vivo uma peça de som e imagem no âmbito do Festival Loops.Lisboa (Temps d’Images) no MNAC. Com os seus percursos próprios, e com modos distintos de ligação à música e às artes plásticas ou performativas, é comum aos três membros um impulso para forçar, misturar ou romper fronteiras estéticas e fazer desse próprio exercício de ensaio o resultado da criação. Foi assim natural que a ideia inicial de formação do grupo tenha sido a de tocar ao vivo, assumindo as contingências que a improvisação implica, e não a de compor ou produzir de acordo com um planeamento estruturado. O que aqui se apresenta é a gravação de uma dessas sessões.
Haverá um conjunto de condições atmosféricas que são o ponto de partida de cada teste. A cenografia criada ao vivo é disso reflexo, assim como os momentos iniciais de cada peça. Determinado o tom, desencadeia-se um processo semi-controlado, com sincronia no limite e resultados inesperados. Ao longo de cinco minutos e meio, circula-se entre atmosferas densas, metais em entropia, um bombo inconstante e repetições mais ou menos orgânicas que assinalam o carácter ritualista de uma mitologia ancestral ou os motivos elegíacos de metalurgias abandonadas. A certa altura ouve-se uma voz, qualquer coisa na vertigem de um canto lírico constantemente perturbado por vocalizações imperceptíveis e reféns de um feedback perpétuo. Não é certo aquilo que é material de arquivo e aquilo que é tocado ou cantado. Tudo nos chega de modo intersticial, como fragmentos e despojos de um todo que não pode ser integralmente reconstituído.