«A superfície da terra e os produtos da mente têm uma maneira de se desintegrar em regiões discretas da arte. Vários agentes, tanto ficcionais como reais, de certa forma trocam de lugar entre si – não se consegue evitar o pensamento lamacento no que toca a projectos térreos (de terra?), ou àquilo a que darei o nome de 'geologia abstracta'. A mente e a terra estão num estado constante de erosão, rios mentais levam para longe bancos abstractos, as ondas cerebrais minam falésias de pensamento, ideias decompõem-se em pedras de desconhecimento, e a cristalização conceptual desintegra-se em depósitos de razão nua e crua. Vastas faculdades em movimento ocorrem neste miasma geológico, e movem-se da forma mais física. Este movimento parece inerte e no entanto esmigalha a paisagem de lógica com devaneios glaciais. Este lento fluir torna-nos conscientes da turvação do pensamento. Declives, deslizamentos de destroços, avalanches têm todos lugar no interior dos limites fracturados do cérebro. O corpo todo é levado para o sedimento cerebral, onde as partículas e os fragmentos se tornam conhecidos sob forma de consciência sólida. Um mundo descolorido e fracturado envolve o artista. Organizar esta barafunda de corrosão fazendo dela padrões, grelhas e subdivisões é um processo estético que ainda mal foi tocado. […]
Os destroços de limites passados
Os estratos da Terra são um museu amontoado. Incorporado no sedimento encontra-se um texto que contem limites e fronteiras que se evadem da ordem racional e estruturas sociais que confinam a arte. De modo a lermos as pedras devemos tornar-nos conscientes do tempo geológico, e de camadas de material pré-histórico que está sepultado na crosta terrestre. Quando alguém olha rapidamente para os sítios arqueológicos, vê pilhas de mapas destroçados que derrubam os limites históricos da nossa arte actual. À medida que olha para os níveis das sedimentações, o espectador é confrontado com cascalho de lógica. Grelhas abstractas contendo a matéria bruta são vistas como algo incompleto, partido e estilhaçado».
Extracto de A sedimentation of the mind: Earth projects de Robert Smithson, originalmente publicado na Artforum, Nova Iorque, Setembro de 1968.