Desejo de escrever: impossibilidade de dizer. Talvez a escrita nasça sempre de um fracasso?
Procuro palavras, encontro apenas traços. Rabiscos. Restos. Carcaças de sentido. Símbolos disformes, distorcidos, deformados: fragmentos de um discurso amoroso?
Talvez a gaguez seja a única maneira de dizer o indizível.
Gaguez de símbolos nas calçadas da cidade cinza, como num tapete infinito sob os pés de todos. Pesadelos de papel machê… É somente ao dar – ou melhor, ao encontrar forma para este desastre que posso me livrar das minhas preocupações...
Objectos. Papel embebido pela chuva. Jornais. Cartazes desfigurados. Sacos de plástico órfãos de presentes. Por vezes, fitas de tecido colorido, como flores ou ideogramas indecifráveis. Linguagem secreta. Desaires. Ilusões. Sussurros. Gritos sufocados (ou explosivos). Encontro isso tudo sob os meus pés sonâmbulos. Ao percorrer a cidade, tenho a impressão de ver histórias irregulares: fios interrompidos, fragmentos de alegrias passadas, ilhas de desolação, fissuras de memória, labirintos de ansiedade, caminhos de nostalgia...