Werewolf Heart leva-nos até meio de uma auto-estrada directa para lugar nenhum, um lugar desconhecido algures no México, talvez a famosa U.S. Route 66 que atravessa o Texas, o Novo México, o Arizona, Santa Mónica, a Main Street do glorioso brilho da América.
A forte luz diurna projecta-se contra a cor preta pregada à pele da figura como uma sanguessuga que não se deixa arrancar. Um drama interior está a ter lugar entre o sonho e a realidade de um pesadelo. Uma sublimação poética e estética de um desassossego, de uma angústia existencial e de uma perturbação psíquica é representada com o domínio preciso da contorção e da desorientação físicas. A simplicidade, a banalidade e a direccionalidade da estrada solar tornam o desequilíbrio e o pathos ainda mais fascinantes, provocando uma espécie de embriaguez no espectador, levado por uma espécie de deleitosa intoxicação, um envenenamento comunicativo acentuado pela música e a letra compostas e interpretadas por Ryan Gosling dos Dead Man’s Bones.
Dalel Bacre exalta um personagem mágico perdido e debatendo-se com os seus demónios interiores, ou com os que vagueiam por aquelas terras solarengas assombradas pelos períodos pesarosos e sombrios da sua história colectiva. A instabilidade e a vertigem que ela encarna é palpável nos gestos emocionalmente carregados, no movimento e nos efeitos de travelling de um olhar desligado e distanciado sobre si-próprio.
As adversidades e a corrida louca, a trajectória pessoal atirada para a frente, para trás, a ginástica dionisíaca corpórea e psíquica, as tentativas de orientação própria e a sede de vida exaltada continuam entrelaçadas com a harmonia cósmica, com a beleza matemática apolínea escondida que governa o visível através do invisível: a polaridade unida que dá origem à tragédia. Como sombras num vestido vermelho, Dalel encarna uma força activa que gera estilo[1], suspense e mistério que são, simultaneamente, encantadores e sombriamente viciantes.
Texto de Katherine Sirois
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No Dancing Today
Nesta performance o conjuntural, acidental e inesperado coexistem através da coreografia. Não estou a tentar desenvolver uma ideia nova ou um conceito novo com No Dancing Today. O que estou a fazer abre um espaço experimental onde o próprio acto cénico tem o papel principal; um momento representado como aqui e agora. O trabalho que eu criei vive numa zona de hibridação entre dança e o conceito de performance, movendo-se entre coreografia ensaiada e improvisação. A exposição é construída a partir do uso de dois elementos chave, uma máscara e uma plataforma giratória.
O espaço é preenchido com uma atmosfera que evoca um momento sublime, ao fazer isso combino ferramentas técnicas e estéticas com a performance física.
Texto de Dalel Bacre
Footnotes
^ Fórmula usada por Aby Warburg referindo-se à noção de empatia de Robert Vischer. RAMPLEY, Matthew (1997). «From Symbol to Allegory: Aby Warburg's Theory of Art». The Art Bulletin. Vol. 79, n° 1, 44. Aby Warburg, Ausgewählte Schriften und Würdigungen, ed. D. Wuttke, Baden-Baden, 1992, 13.