Em média, cada molécula de água evaporada fica aproximadamente 10 dias em suspensão na atmosfera antes de voltar a cair no solo.
A nossa experiência do tempo se dá por seus ciclos, divididos em módulos, minutos segundo dias, meses, estações… A ideia de que ele é linear e contínuo é contestada, explorada, da astro-física à quântica, mas o que temos certeza, por experiência, são suas voltas, seus ciclos, como todos os dias a manhã nos lembra, cheia do orvalho deixado pela noite.
Quando olhamos este tempo tropical, percebemos que a água é o grande marcador do fluir do relógio[1], apoiado no contínuo ritual da transpiração, evaporação, condensação, precipitação e escoamento, fazendo da terra uma grande clepsidra[2]. Os registos molhados aqui do tempo no Brasil mostram este passar no ritmo da água, seja rio, cachoeira, nuvem, chuva ou orvalho, e com isto não esquecemos que o tempo é cíclico, mas fluido.
«VI
Desde o começo do mundo água e chão se amam
e se entram amorosamente
e se fecundam.
Nascem peixes para habitar os rios
E nascem pássaros para habitar as árvores.
(…)
As águas são a epifania da criação.
Penso nos rios infantis que ainda procuram declives
para escorrer.
Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas para a alegria das garças.
(…)
Acho agora que estas águas que bem conhecem a inocência de seus pássaros e suas árvores.
Que elas pertencem também de nossas origens.
Louvo portanto esta fonte de todos os seres e de todas as plantas. (…)»[3]
Téo Pitella
^ Diz-se que em Manaus marcam-se eventos antes ou depois da chuva, todos os dias.