Há um sentimento de tragédia iminente nas nossas vidas. Neste lugar desolado, somos confrontados com uma ideia de destruição, talvez pela subida das águas. Perante a calma e a serenidade características dos lugares desertos e desabitados, descobrimos uma vastidão pontuada por figuras formadas a partir desse movimento das águas.
Este lugar desolado é a imagem dum futuro próximo que já vimos, lemos e imaginámos. Neste lugar, as figuras do acaso apresentam-se numa relação muito próxima entre o céu e a terra. Nada existe entre eles… Esta união é uma realidade evidente que, tal como o crer, nos tranquiliza no encontro com as realidades mais adversas. Na sua escala, parecem monumentos erguidos e que nos remetem para formas de adoração ao desconhecido, daquilo que há-de vir.
O que aconteceu neste lugar e eventualmente no mundo é da nossa responsabilidade e se nestas imagens não encontramos traços de presença humana, descobrimos indícios da nossa tragédia.
O movimento natural da terra transforma e renova a vida. Este movimento perpétuo da água que vai e volta cria objectos que se apresentam perante nós como figuras dum futuro provável.
A maré não permite ideia nem forma de coisa conhecida. Tudo é movimento e a erosão mata todos os dias o que levou o dia a crescer. Todos os dias se nasce e morre um bocadinho.
Nada prevalece e só o movimento e o acaso criam a paisagem desolada onde o olhar encontra significados. Neste tempo diferente já não importa o que há-de vir, e esse desconhecimento do futuro é a nossa maior certeza.