Kuch Nahi, o termo Hindi para dizer o nada, viaja para o extremo oposto do mundo, para o deserto Atacama, com o propósito de experienciar o sentido do vazio desde a condição transcendental de um espaço mental que, na sua essência mais literal, não contém nada. Aí encontra uma cultura imposta que não o reconhece e para a qual é invisível. A um nível mais profundo, a realidade foi escondida; no entanto, apesar de se manter imperceptível, continua a estar aí de forma latente. Assim, o nada explora Atacama, implicando-se num diálogo com as vozes Quechua do deserto que viajam de um lugar para o outro, como ecos de um passado que agem como um(a) conduta para a realidade enterrada. Kuch Nahi desenterra essas sabedorias latentes, torna-as suas e depois desaparece com elas.
Kuch Nahi quer literalmente dizer «algo que é nada», reconhecendo as culturas indianas que se sentem à vontade com a ideia segundo a qual o vazio poderia ser alguma coisa, ao contrário da tradição Ocidental em que o nada não pode de todo ser compreendido. Para alem de representar o vazio ou a ausência, o zero indiano também representa o espaço, o firmamento, a esfera celeste, a atmosfera, a quantidade que não deve ser tomada em consideração...
Aqui estamos face a uma viagem fragmentada e dispersa de Kuch Nahi, na qual nos deparamos com uma passagem para a observação daquilo que é mais distante, o cosmos, tanto quanto das partículas mais ínfimas.
No meio daquele tecido espacio-temporal, somos como linhas segmentadas e curvas que são limitadas e firmes, perdidas entre céu e terra, ligando zero e infinito. Do mesmo modo, o vazio assume a dimensão de um objecto físico, já que está carregado de energia e pode transformar-se em vários estados físicos. Um vazio quase metafísico. Zero como expressão formal. Vazio já não visto como uma ausência, mas como a produção de sentido. Um vazio contendo o infinito. Um vazio que está ali, mas que deseja ser ocupado.
Traduzido do inglês por N. Miguel Proença