Se em FACE A (Abertura) a primeira reflexão pendia sobre a resistência material do arquivo à sua abertura, à analogia entre o arquivo e a construção por camadas heterogéneas (ao invés de uma «face» que lhe é original e intacta), FACE B (Bayreuth) é uma deambulação sobre as contradições do lugar na sua relação com a História recente.
Nesta segunda reflexão ou «andamento», parto do telhado da Opera House[1] que se situava em frente do meu estúdio na Iwalewahaus, para ir até ao Passeio de Wagner – um percurso por Bayreuth que nos dirige à Wagner Festspielhaus[2] e ao seu sonho purista, nacionalista e reacionário de uma Ópera «pura», sem contaminações, única e exclusivamente desenhada por si, para a sua criação e para a fruição de uma elite.
A experiência deste passeio é contraditória – uma beleza imaculada no rigor e na procura de perfeição coexiste com a memória de uma crueldade hedionda.
«Um percussionista Yoruba é tão sofisticado quanto um violinista» é uma frase célebre de Uli Beier, fundador da Iwalewahaus e do Festival Transcultural de Música de Bayreuth, que decorreu na Ópera adjacente à sinagoga. O propósito do festival era o de ligar artistas de diferentes culturas.[3]
Prometeu devolveu o fogo à Humanidade.
Opera House (telhado da sinagoga no canto inferior esquerdo)
O PASSEIO DE WAGNER
VOZES EMUDECIDAS
PROMETEU
O PASSEIO DE REGRESSO
CONFLUENCE TO BE CONTINUED
Documentação exposta no Richard Wagner Museum, Bayreuth
Confluence, álbum de Dollar Brand e Gato Barbieri, 1975
^ Bayreuth é conhecida também por ter recebido Adolf Hitler e pelos discursos que este proferiu na cidade. Contudo, uma das poucas sinagogas que sobreviveram ao Holocausto situa-se aqui. Tal deve-se ao facto desta se situar a paredes meias com a Opera House e ao medo que ao incendiarem a sinagoga pudessem também destruir a Ópera.