Takehisa Kosugi, movimento imperceptível

Takehisa Kosugi, movimento imperceptível

Takehisa Kosugi, «Spacings», Ikon Gallery, 2015. Fotografia: Stuart Whipps

A Galeria Ikon, de Birmingham, apresenta a primeira grande exposição individual, no Reino Unido, do compositor e artista japonês Takehisa Kosugi.
Kosugi estudou musicologia na Tokyo National University of Fine Arts and Music no final dos anos 1950 e foi influenciado pela música experimental que irrompia na Europa e Estados Unidos e também pela música tradicional japonesa, em particular pelo conceito de «ma» do Teatro Nô. Trabalhou a espontaneidade nas suas performances sonoras, tendo fundado em 1960 o primeiro grupo japonês dedicado à improvisação colectiva, o Grupo Ongaku, e mais tarde os influentes Taj Mahal Travellers (1969). Esteve associado ao movimento Fluxus e, em Nova Iorque, colaborou com inúmeros artistas Fluxus, como Nam June Paik. Os seus interesses evoluíram da música para o que chamava «eventos», realizando trabalhos que relacionavam o som com o ambiente circundante.

Takehisa Kosugi, «Spacings», Ikon Gallery, 2015. Fotografia: Stuart Whipps

Kosugi foi compositor, performer (1975) e director musical (1995) na Merce Cunningham Dance Company, onde colaborou com John Cage, David Tudor e David Behrman entre outros, tendo ainda trabalhado com músicos de jazz como Steve Lacy, Motoharu Yoshizawa, Haruna Miyak. «Eu precisava de libertar a música do meu controlo, mas a improvisação é ainda controlada pelos hábitos de interpretar música. O que a electrónica me mostrou foi o movimento das ondas electrónicas a separarem-se de mim. Desenvolver uma relação com estes fenómenos é um modo de nos transcendermos», afirmou.

Takehisa Kosugi, «Mano-dharma, electronic», 1967. Vista da instalação em «Spacings», Ikon Gallery, 2015. Fotografia: Stuart Whipps

A exposição «Spacings» apresenta três instalações sonoras, incluindo uma feita especialmente para a Ikon. Combinando materiais do quotidiano e dispositivos electrónicos de rádio, elas envolvem interações com o vento, a eletricidade e a luz, estabelecendo relações sonoras entre os objectos.
«Mano-dharma, electronic» (1967) é uma obra em que Kosugi faz uso de ondas inaudíveis – como ondas de rádio-frequência e movimento do vento – desenhando o som por elas produzido através da interação de dispositivos e receptores de transmissão de ondas eletrónicas suspensos do tecto. O efeito é reforçado por um ventilador oscilante e visualizado através de uma projecção vídeo das ondas do mar.

Takehisa Kosugi, «Interspersion for Light and Sound», 2000. Vista da instalação em «Spacings», Ikon Gallery, 2015. Fotografia: Stuart Whipps

«Interspersion for Light and Sound» (2000) é um trabalho que incorpora o movimento imperceptível. Uma caixa em acrílico é preenchida com açúcar e/ou areia branca emitindo estalidos fracos de som e luz – causados pela transparência acústica e visual dos materiais granulares – através de um sistema eletrónico e lâmpadas LED escondidas. Kosugi expõe assim a maravilha de encontros acidentais e incerteza criados por fenómenos invisíveis aos nossos olhos.
A exposição está patente na Galeria Ikon, em Birmingham, até 27 de Setembro. MM

CARLOS BUNGA, I am a Nomad

CARLOS BUNGA, I am a Nomad

Carlos Bunga, «I am a Nomad». Vista da exposição no Museum Haus Konstruktiv, 2015. Cortesia do artista e Galería Elba Benítez, Madrid

Museum Haus Konstruktiv, em Zurique, apresenta a exposição «I am a Nomad» de Carlos Bunga. Na mostra, o artista português trabalha sobretudo a condição do «ser migrante» — mas inserido no contexto de um mundo global. Minimalista, nos materiais que utiliza, e que o distinguem na sua prática artística, apresenta mais uma vez obras onde a simplicidade e a abstracção funcionam como mnemónicas para realidades muito presentes nos «media».

Carlos Bunga, «I am a Nomad». Vista da exposição no Museum Haus Konstruktiv, 2015. Cortesia do artista e Galería Elba Benítez, Madrid

A exposição está dividida em dois pisos, encontrando-se num deles uma instalação «site-specific» composta por estruturas construídas em cartão, tinta e fita adesiva que sublinham a efemeridade das construções de habitabilidade, uma constante no corpo de trabalho do artista.
Noutro piso poder-se-á encontrar trabalhos de desenho, escultura e vídeo criados em resposta à instalação referida, gerando um diálogo mais alargado, que vai para além do uso da técnica que normalmente utiliza, forçando uma reflexão no espectador.

Carlos Bunga, «I am a Nomad». Vista da exposição no Museum Haus Konstruktiv, 2015. Cortesia do artista e Galería Elba Benítez, Madrid. Fotografia: Stefan Altenburger

Durante a exposição foi ainda criado um livro de artista, «DNA», em colaboração com a editora suíça Artphilein Editions. «DNA» é um (quase) caderno de projecto, que permite um entendimento mais profundo da sua obra. Compõe-se de duas partes: na primeira, Carlos Bunga cria um glossário pessoal, de A a W («From Absence to Work»  — como refere), onde para cada palavra criou um conjunto de notas, algumas como colecção de termos, outras reflexões pessoais sobre a palavra em questão; na segunda parte («From Creative Process to Temporality»), apresenta um conjunto de esboços com esquemas e reflexões manuscritas em torno de cada conceito enunciado.
Esta exposição, a primeira individual de Carlos Bunga em território suíço, decorre em paralelo com uma mostra individual de William Kentridge, até 6 de Setembro. PdR

MacGuffin: The Bed

MacGuffin: The Bed

MacGuffin é uma nova publicação semestral dedicada à vida dos objectos comuns. Publicada na Holanda, a abordagem editorial desta revista é em tudo divergente da perspectiva do design de produto e de consumo. Concebida como um projecto alternativo ao foco promocional e à vertente de divulgação sobre a inovação tecnológica no campo do design contemporâneo, na MacGuffin destacam-se as histórias de bastidores que envolvem os objectos anónimos e os usos quotidianos ou mais inusitados que fazemos da cultura material. 


Tal como os MacGuffins associados aos filmes de Alfred Hitchcock quase sempre um elemento sem importância, que constitui um pretexto para desencadear uma acção  e desenvolver uma cena ou história —, cada número desta revista tem por ponto de partida um único objecto, a partir do qual se exploram histórias pessoais e narrativas múltiplas, históricas, políticas, culturais e visuais a ele associadas. 


O primeiro número foca as nossas camas e conta com a colaboração de escritores, críticos, designers, artesãos e fotógrafos como Sam Jacob, Chris Kabel, Noriko Kawakami, Arnoud Holleman, Steven Heller, Wouter Vanstiphout, Madelon Vriesendorp e Labadie/Van tour. O projecto editorial é assinado por Kirsten Algera e Ernst van der Hoeven, e o design gráfico da autoria de Sandra Kassenaar. SVJ

HENRY DARGER, The Realms of the Unreal

O Musée Moderne de la Ville de Paris expõe até 11 de Outubro a obra de Henry Darger (1892-1973), figura lendária do século XX,  durante muito tempo marginal à cena artística. 

HENRY DARGER, The Realms of the Unreal

Musée Moderne de la Ville de Paris expõe até 11 de Outubro a obra de Henry Darger (1892-1973), figura lendária do século XX,  durante muito tempo marginal à cena artística.  Artista americano autodidacta, solitário, Henry Darger viveu num lar de doentes mentais (de onde fugiu) e grande parte da sua vida foi passada a trabalhar em serviços de limpeza de diversos hospitais. 

Henry Darger, «Second battle of McAllister Run they are pursued» (detalhel)

Porém, no seu tempo livre — sobretudo ao longo da noite —, dedicou-se secretamente à produção literária e pictórica, construindo uma obra de mais de 15.000 páginas: «The Story of the Vivian Girls, in What is Known as the Realms of the Unreal, of the Glandeco-Angelinian War Storm, Caused by the Child Slave Rebellion», ilustrada com uma série de várias centenas de aguarelas, desenhos e colagens. 
 

«Henry Darger’s Home». Fotografia: Nathan Lerner e David Berglund, c. 1970s. © American Folk Art Museum


Esta peça de ficção, descoberta meses antes da sua morte,  possuidora de um estilo muito singular e de uma mitologia complexa,  continua a exercer fascínio no meio artístico e a inspirar gerações de artistas: entre eles, Paula Rego, os irmãos Chapman, Paul Chan e Peter Coffin.  
Na exposição, mostram-se os grandes painéis de ilustração que Darger concebeu, de grande escala e desenho minucioso, ocupados dos dois lados, onde se narra a história da revolta das crianças escravizadas, as Vivian Girls, cruzando narrativas históricas e referências da cultura popular americana. SVJ

LARTIGUE, la vie en couleurs

LARTIGUE, la vie en couleurs

A Maison Européenne de la Photographie, em Paris, apresenta a exposição «Lartigue, la vie en couleurs». Em destaque está uma série de fotografias a cores de Jacques Henry Lartigue, fotógrafo francês da primeira metade do século XX, mais conhecido pelas suas fotografias a preto e branco.

J. H. Lartigue, «Ascoli Piceno, 1958». © Ministère de la Culture - France / AAJHL

A obra a cores de Lartigue, apesar de representar cerca de um terço da totalidade do seu trabalho fotográfico, nunca havia sido exposta como tal. É mostrada pela primeira vez, retratando um novo Lartigue, desconhecido e surpreendente para o público que o associa à fotografia a preto e branco. Nestas fotografias descobre-se um artista que exprime a alegria de viver em cores o que, segundo as suas palavras, constitui um recurso «mais capaz de exprimir o charme e a poesia». Colecionador compulsivo de imagens e outros artefactos, Lartigue manteve durante toda a sua vida álbuns de fotografias.

J. H. Lartigue, «Sylvana Empain. Juan-les-Pins, août 1961». © Ministère de la Culture - France / AAJHL

A exposição integra 30 autochromes da sua juventude (1912-1927) bem como placas de vidro com o formato 6X13 estereoscópicas, técnica comercializada pelos irmãos Lumière. Impressões realizadas a partir de positivos originais, fotografias realizadas em 6X6 com uma Rolleiflex, coladas nos álbuns que Lartigue foi construindo ao longo dos anos, assim como páginas dos mesmos, fazem ainda parte da exposição.

J. H. Lartigue, «Florette à la plage du Carlton. Cannes, juillet 1956». © Ministère de la Culture - France / AAJHL

Os temas privilegiados pelo autor nas suas fotografias a cores foram, numa fase inicial, a sua família e amigos, e tudo o que acontecia à sua volta. Mais tarde, as sucessivas mulheres com quem casou, a vida frenética dos seus amigos ricos, sempre com doses elevadas de humor. As viagens que fez (Itália, Cuba, Estados Unidos da América) foram igualmente alguns dos temas que fotografou.

J. H. Lartigue, «Florette dans la Morgan. Provence, mai 1954». © Ministère de la Culture - France / AAJHL

A exposição «Lartigue, la vie en couleurs», está patente na Maison Européenne de la Photographie até 23 de Agosto de 2015 e é acompanhada pela edição de um catálogo. MM