Takehisa Kosugi, movimento imperceptível
A Galeria Ikon, de Birmingham, apresenta a primeira grande exposição individual, no Reino Unido, do compositor e artista japonês Takehisa Kosugi.
Kosugi estudou musicologia na Tokyo National University of Fine Arts and Music no final dos anos 1950 e foi influenciado pela música experimental que irrompia na Europa e Estados Unidos e também pela música tradicional japonesa, em particular pelo conceito de «ma» do Teatro Nô. Trabalhou a espontaneidade nas suas performances sonoras, tendo fundado em 1960 o primeiro grupo japonês dedicado à improvisação colectiva, o Grupo Ongaku, e mais tarde os influentes Taj Mahal Travellers (1969). Esteve associado ao movimento Fluxus e, em Nova Iorque, colaborou com inúmeros artistas Fluxus, como Nam June Paik. Os seus interesses evoluíram da música para o que chamava «eventos», realizando trabalhos que relacionavam o som com o ambiente circundante.
Kosugi foi compositor, performer (1975) e director musical (1995) na Merce Cunningham Dance Company, onde colaborou com John Cage, David Tudor e David Behrman entre outros, tendo ainda trabalhado com músicos de jazz como Steve Lacy, Motoharu Yoshizawa, Haruna Miyak. «Eu precisava de libertar a música do meu controlo, mas a improvisação é ainda controlada pelos hábitos de interpretar música. O que a electrónica me mostrou foi o movimento das ondas electrónicas a separarem-se de mim. Desenvolver uma relação com estes fenómenos é um modo de nos transcendermos», afirmou.
A exposição «Spacings» apresenta três instalações sonoras, incluindo uma feita especialmente para a Ikon. Combinando materiais do quotidiano e dispositivos electrónicos de rádio, elas envolvem interações com o vento, a eletricidade e a luz, estabelecendo relações sonoras entre os objectos.
«Mano-dharma, electronic» (1967) é uma obra em que Kosugi faz uso de ondas inaudíveis – como ondas de rádio-frequência e movimento do vento – desenhando o som por elas produzido através da interação de dispositivos e receptores de transmissão de ondas eletrónicas suspensos do tecto. O efeito é reforçado por um ventilador oscilante e visualizado através de uma projecção vídeo das ondas do mar.
«Interspersion for Light and Sound» (2000) é um trabalho que incorpora o movimento imperceptível. Uma caixa em acrílico é preenchida com açúcar e/ou areia branca emitindo estalidos fracos de som e luz – causados pela transparência acústica e visual dos materiais granulares – através de um sistema eletrónico e lâmpadas LED escondidas. Kosugi expõe assim a maravilha de encontros acidentais e incerteza criados por fenómenos invisíveis aos nossos olhos.
A exposição está patente na Galeria Ikon, em Birmingham, até 27 de Setembro. MM