A violoncelista Lucy Railton, chega-nos de Londres para se apresentar em concerto, dia 14 de Dezembro, pelas 21h30, no Museu da Marioneta, em Lisboa. Reconhecida no meio da cena experimental inglesa pelos seus projectos a solo ou pelas suas colaborações (tão variadas e que incluem Peter Zinovieff, Beatrice Dillon, Kenichi Iwas, Ensemble Plus Minus, London Sinfonietta ou até os primórdios da Orchestra Elastique), dotada de uma técnica invulgar, explora a potência sónica do seu instrumento ao limite – uma máquina de fabricar paisagens aurais, do concreto poético ao noise que é concreto. Esta será uma oportunidade rara para ouvir uma compositora que também tem promovido a escuta de nova música, como é o caso da sua programação no London Contemporary Music Festival ou na série de concertos Kammer Klang.
Na mesma noite chega-nos Garcia da Selva, projecto a solo de Manuel Mesquita, que este ano já nos brindou com o álbum Radical Savage (LP pela Doubledog Recordings e K7 pela Urubu tapes), e com algumas performances ao vivo memoráveis. Munido de um set up minimalista que tem como coração um orgão (que na verdade é um sintetizador), constrói, escreve, um som incategorizável que, em dias, poderá ser inspirado nas partes mais obscuras do psicadelismo de Piero Umiliani ou, em outros, num Morricone embriagado (se neste apontássemos o épico e o kitch nos jardins entre prédios de uma zona suburbana lisboeta).
Seguem-se também concertos de Lucy Railton, a 15 de Dezembro, no Venha a Nós a Boa Morte , em Viseu e a 16 de Dezembro, no Passos Manuel, Porto, ambos pela 22h30. BH
Luís Castanheira Loureiro, fundador da nova galeria ACERVO – Arte Contemporânea, em Lisboa, convidou a artista Magda Delgado, para uma exposição a solo intitulada «Profecia e Abismo» [«Prophecy and Abyss»].
Em «Profecia e Abismo», Magda Delgado (Lisboa, 1980) apresenta um conjunto de trabalhos proteiformes (desenho, fotografia polaróide e instalação) e delicados que se propõem reflectir sobre os temas do tempo e da extinção da Humanidade relacionados com o comportamento auto-destruidor por via da degradação irremediável do nosso meio ambiente. A ruína, o fumo oriundo de um cataclismo que seja natural ou «man made», impressões de rastos de vida – tendo como pano de fundo a crítica implícita do imperativo de um crescimento infinito e da exploração desenfreada da natureza que implica – dão-se a ver e a pensar como outras tantas vanitas contemporâneas.
A imaginação e a sensibilidade de Magda Delgado fazem com que se concentrem formas e motivos do passado, do presente e do futuro em obras que põem a questão do destino actual da humanidade através de evocações de um mundo onde estão intrinsecamente ligadas as manifestações naturais, religiosas (objectos de devoção), artísticas e proféticas. Certos documentos visuais presentes na exposição agem como janelas temporais sobre formas de vida que existiam antes de um provável Apocalipse, quais lembranças longínquas. Pelo seu trabalho, Magda Delgado levanta a si própria questões sobre o estatuto e a eficácia da beleza, não só como forma de consolo face ao inevitável, mas também como parte de uma dinâmica de aspiração a uma harmonia entre o desenvolvimento e a preservação. Apesar do aparente pessimismo, esta presciência de um fim por vir leva-nos a pensar, de uma maneira positiva, que abre o leque dos possíveis, em novos modos de acção e de organização colectivas.
Magda Delgado vive e trabalha no Luxemburgo e em Lisboa, depois de ter vivido em Inglaterra e na Alemanha durante vários anos. A exposição foi inaugurada no dia 2 de Novembro e vai decorrer até ao dia 26 de Janeiro na galeria ACERVO – Arte Contemporânea, na Rua do Machadinho, n. 1, em Lisboa. KS
Sempre no último fim de semana de Novembro, a Feira do Livro de Fotografia terá a sua edição, uma vez mais e fruto da sua colaboração com o Arquivo Municipal de Lisboa, no edifício do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, na Rua da Palma.
Evento único e específico no panorama nacional, no que respeita à produção editorial em fotografia transforma o espaço do arquivo na maior livraria especializada em Fotolivros e durante um fim de semana. Este ano faz igualmente parte do programa Lisboa Capital Iberoamericana da Cultura 2017 – Passado e Presente enriquecendo a programação com livros, conversas, apresentações, exposições e debates com alguns nome relevantes do panorama editorial e da fotografia de outras geografias, nomeadamente do Peru, o país convidado desta edição.
Com um programa vasto e que vai além do espaço comercial inclui várias exposições: A Exposição de Maquetes, onde projectos em desenvolvimento podem ser apreciados devido à partilha generosa dos seus autores. A Exposição de Fotolivros Iberoamericanos, que resulta de uma convocatória aberta destinada a autores de todos os países iberoamericanos e que com a generosidade de inúmeros autores e editoras permitiu reunir cerca de 160 livros de diferentes geografias e realidades. Esta exposição começa um périplo em Lisboa, que irá prolongar-se por Madrid, através de uma colaboração com a feira de fotolivros Fiebre Photobook, em Dezembro; e na Galiza, em 2018, através da parceria com a Dispara Xestión Cultural. E uma outra exposição, comissariada pela organização da FLFL, que estará patente na Sala Principal de Exposições do Arquivo e que reunirá 4 projectos individuais e colectivos, cuja origem é editorial e que trarão uma nova abordagem à fotografia e à edição em Fotografia.
No plano dos debates, a edição deste ano focou-se essencialmente nas problemáticas relacionadas com a circulação – tanto de fotolivros, como de projectos fotográficos, com especial enfoque no Peru e na América Latina, mas também com a oportunidade de abordar esta mesma questão no plano europeu. Para estas conversas contam-se inúmeros convidados entre fotógrafos, curadores, historiadores, editores e organizadores de festivais. A edição deste ano conta igualmente com várias apresentações de trabalhos de autores nacionais e estrangeiros e lançamentos de livros.
No Mercado dos Fotolivros, poderão encontrar-se vários auto-editores, editores e livrarias especializadas, com diversos títulos, entre raridades e novidades. A formação faz também parte do programa da FLFL desde há várias edições, dirigida tanto a crianças como adultos, sendo introdutória e especializada, como por exemplo no Workshop de Projecto Page Turner, com a orientação de Paula Roush.
A FLFL tem entrada livre e tomará lugar na Sexta-feira dia 24 de Novembro e prolongar-se-á até Domingo, dia 26 de novembro. Os horários são Sexta-feira, 24, das 17h às 21; Sábado, 25,das 14h às 21h; Domingo, 26, das 14h às 20h. WW
Inaugura a 25 de novembro na Galeria Kubik, no Porto, «Sonatas e Interludes» de Rui Valério, exposição que, segundo o artista, é «principalmente de desenho», mas que agrega também som e onde diferentes géneros de representação gráfica, próprias da notação musical são exploradas «instrumentalmente». Os desenhos, que estarão expostos no espaço da galeria, poderão, simultaneamente ser encarados no sentido da sua exploração visual, assim como, serem susceptíveis de ser interpretados por via musical.
A já habitual referência ao som, presente no trabalho do artista, surge tratada, no espaço da galeria, segundo um registo sinestésico, em que os desenhos expostos se desenrolam por meio da ideia de que «ver é ouvir», ou como diria antes o historiador Don Goddard, de que «Ouvir é uma outra forma de ver». Desse modo, imagens alusivas a ondas hertzianas são tratadas no exercício do desenho, pelas suas propriedades formais. Por meio de omissões, cadências, ritmos e interrupções da linha, evidencia-se assim a propriedade sinestésica do desenho.
Num processo de continuidade com as anteriores exposições, o artista, pela natureza dos seus trabalhos, reforça a importância da referência histórica nas artes plásticas, e no sentido de Greenberg, em que, para produzir arte verdadeiramente importante, é «necessário, como regra, digerir a maior arte possível, do período ou períodos precedentes». Por esse motivo, o espaço da galeria parece deslocar-se no tempo e evocar, por breves instantes, o minimalismo que, quer pela similitude dos recursos materiais usados, quer pela linguagem usada – abstração, geometria, mínimo de incidente – remonta historicamente ao período em que se reagia entusiasticamente contra os excessos gestuais decorrentes do expressionismo abstracto.
Neste exercício de organização e de depuração material na obra de Rui Valério, podem observar-se, ainda, um manifesto compromisso com o discurso de apropriação, umas vezes mais evidente, outras menos, deliberado ou fruto do acaso, em que se intensifica essa ligação com o passado e com a intemporalidade da arte. Carla Carbone
A relação humana com o trabalho serve de mote a esta exposição de José Almeida Pereira. Através da pintura e também do papel do pintor enquanto parte de um sistema artístico e sistema social, José Almeida Pereira questiona as convenções do trabalho e mesmo um certo modelo «taylorista» que tem vindo a impôr-se dentro das artes visuais.
Os trabalhos apresentados interpolam momentos disjuntos da história da arte desordenados cronologicamente, e que no entanto reforçam-se ou reforçam a ideia da obsolescência do trabalho físico: desde o Sísifo de Tiziano, à Leiteira de Vermeer ou às Ceifeiras de Millet, culminando numa instalação quase cosmológica que refere o vanguardismo russo de Malevitch ou El Lissitzky – dissenso de corporalidade e apelando ao lado intelectual do trabalho.
Ainda que de forma não literal é intrínseca essa constatação através de uma evolução técnica invisível, que faz parte da própria história da humanidade, tanto através da constante mecanização trazida sobretudo pela Revolução Industrial, bem como da complexização operacional que constitui, no nosso tempo, os modelos de distribuição e comercialização, que igualmente primam pela maximização da escala recorrendo a uma standardização crescente e igualmente abstracta, em que a divisão do trabalho tem um papel fulcral.
É nesse sentido que José Almeida Pereira questiona o seu papel: um artista, que se exprime através da pintura; ou um «curador», que abre o discurso e a reflexão sobre o tema incluindo trabalhos de outros artistas?
Cristina Regadas e Max Fernandes partilham o espaço da galeria com José Almeida Pereira preenchendo o silêncio e a bidimensionalidade da pintura com instalações de vídeo e escultura.
A «pedra de Sísifo», de Cristina Regadas ganha forma criando uma tensão ameaçadora entre as pinturas abstractas em vidro – essas abstractas, dispostas numa quase constelação flutuante e supostamente libertadas da fisicalidade do trabalho.
Mas não se apresenta como algo natural. Igualmente carrega em si uma evolução física que se traduz pelo material – cimento, e que contém vários substratos de momentos geológicos do planeta. Uma constatação de que apesar da obsolescência continuamos prisioneiros do trabalho criando dentro da evolução técnica subjacente, novas «pedras» para carregar às costas.
Max Fernandes apresenta, por outro lado, dois trabalhos: um vídeo e uma vídeo-instalação. A instalação dialoga, de certa forma, com as abstrações reinterpretadas por José Almeida Pereira: uma bola de espelhos apresenta um círculo preto (como um Malevitch) projectado contra a parede, enquanto o som de um metrónomo interrompe o silêncio do espaço com uma imagem que vai mudando de posição pelas paredes e que mostra um dedo que se move, de acordo com o ritmo.
Já no vídeo, Max Fernandes aborda o tema com uma obra contendo várias interrogações e um certo activismo; uma sobreposição entre pintura e vídeo do espaço onde tem desenvolvido a sua actividade até à data, uma fábrica de tecelagem e tinturaria, agora desactivada – que originou uma polémica pela imposição forçada da Câmara de Guimarães em transformar o espaço e toda a envolvência num parque de estacionamento, expulsando as actividades artísticas que têm aí vindo a ser desenvolvidas –, um sinal do «progresso» urbanístico ao qual normalmente se denomina por gentrificação.
A exposição está patente na Galeria Graça Brandão, até ao dia 11 de Novembro. PdR