Decorreu entre 19 de Setembro e 2 de Outubro, no Museu de Angra do Heroísmo (MAH), a edição do Re_Act Contemporaty Art Laboratory de 2017. Esta iniciativa, com a curadoria da No.Stereo e da TAL Projects e comissariada pela DRAC Açores, juntou vários artistas numa residência, que procurou funcionar como um laboratório de pesquisa sobre assuntos da contemporaneidade, relacionando as novas formas de socialização e as possibilidades da mediação digital e da experimentação física e factual.
A localização geográfica permitiu ainda aos participantes tomar contacto com a paisagem natural açoriana, onde a pressão urbana e outros fenómenos, ou paradigmas, dos grandes centros urbanos, não se fazem ainda sentir oferecendo a possibilidade de «parar o tempo» –, de quebrar o ritmo desenfreado em que vive a sociedade contemporânea e de proporcionar um espaço experimental com um momento dialético próprio, em tempo-real.
Por outro lado, a insularidade reforçou a ideia de «laboratório», criando as condições de isolamento e neutralidade propícias a uma reflexão e partilha de ideias e experiências entre os participantes.
«Matéria/Não Matéria», a exposição-clímax desta residência, reúne trabalhos resultantes do processo partilhado entre os artistas participantes e vai continuar patente no Museu de Angra do Heroísmo até Janeiro de 2018.
Esta primeira edição contou com artistas de diversa provenência, tais como Antonio Bokel, Ivan Divanto, Gabriela Maciel, Gioia Di Girolamo, Paulo Arraiano, Paulo Ávila Sousa, Patric Sandri, Maurizio Viceré. PdR
O Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, de 4 a 7 de Outubro, a acontecer em vários espaços, apresenta-nos mais uma programação, onde se mantém a coerência e discernimento, concentrada nos incatalogáveis géneros do som, composição e performance.
O som da vanguarda redesenha-se a cada edição e, desta feita, encontrou-se o balanço entre actos referenciais e actos mais recentes que colaboram, repensam e efectivam a urgência de fazer música.
Assim, à destreza minimal e textural do som de Charlemagne Palestine, ao rock pós-tudo, mas mesmo assim punk de Pére Ubu, aos percursores de uma mescla de técnicas e linguagens que não se esgotaram no kraut nem no atonal This is Not This Heat, ao nosso génio da escuta e improvisação de Sei Miguel, só para nomear alguns (o que é mau, porque são todos muito bons), juntam-se nomes que têm estado em criação potente em várias frentes, como Lolina (Inga Copeland), Jejuno (solo noise da artista Sara Rafael), Casa Futuro (com o trio Pedro Sousa, Johan Berthling e Gabriel Ferrandini) ou os Black Dice, entre outros.
Dos regressos, destaca-se o projecto Nocturnal Emissions, mais uma oportunidade para compreender a infindável produção do britânico, e a balanceada obscuridade das suas harmonias, melodias e ritmos que remetem para rituais atemporais.
O concerto de abertura, dia 4 de Outubro pelas 21h30, estará a cargo de Jonathan Uliel Saldanha em colaboração com dois coros (CORAL TAB e o CORO B-VOICE, ambos do Barreiro), na Igreja Santa Maria, onde se espera, e no seguimento de trabalhos anteriores, minimalismo, coreografia no espaço e auralidade impactante. Todo o programa está disponivel no site do festival OUT.FEST 2017. BH
No âmbito do programa paralelo da exposição ENSAIOS (SOBRE A MESA): A partir da colecção do Museu de Lisboa e do Museu Bordalo Pinheiro, patente na Galeria Quadrum | Galerias Municipais de Lisboa, os alunos da segunda edição da Pós-Graduação em Curadoria de Arte NOVA/FCSH/IHA organizam uma Maratona, aberta a toda a comunidade, que visa o aprofundamento da reflexão em torno da exposição, da colecção e da cidade.
A Maratona decorre no fim-de-semana de 23 e 24 de Setembro, entre as 15h30 e as 19h00, na Galeria Quadrum (Rua Alberto de Oliveira, Coruchéus), e conta com a participação de Alda Galsterer, Ana Bigotte Vieira e Ana Mira, Ana Pérez-Quiroga, André Guedes, Ângelo Compota, António Miranda, Carla Baptista, Eduardo Salavisa, Fernando Vendrell, Guilherme Gomes, Helena Botelho, Helena Barranha, Joana Pontes, Joana Simões Henriques, Joana Sousa Monteiro, João Afonso, João Alpuim Botelho, João Biscainho, José Sousa Machado, Mafalda Sebastião, Manuel Sarmento Pizarro, Marta Gonzalez, Miguel Cardoso, Nuno Centeno, Patrícia Madeira,Raquel Henriques da Silva, Rita Múrias, Rui Mendes, Sílvia Câmara, Susana Anágua, Susana Mendes Silva, Xana Nunes.
Cada orador/a dispõe de 10 minutos para a sua intervenção, período de tempo em que apresenta a sua perspectiva, a sua opinião, a sua investigação, o seu projecto, a sua ideia. É tão pertinente uma abordagem do ponto de vista académico, focada numa qualquer área do conhecimento que se enquadre nesta reflexão, como um relato da vivência urbana, por parte de um qualquer agente desta cidade – de quem nela reside, trabalha ou passeia.
A Bienal Experimenta Design volta a abrir as suas portas, no final de Setembro, dando corpo ao tema que tem feito ligação entre várias das suas edições: «Before & Beyond». Os temas de anteriores bienais são relembrados no final desta edição conferindo a este evento um carácter retrospectivo. Segundo a Experimenta Design: «Voltamos aos temas propostos no passado tomando-os como memória, mas lançando-os, também, como directivas de reflexão presente e futura». A Bienal encara, por isso, os seus temas do passado como «fonte de questionamento e conhecimento e base sólida para os fundamentos de um futuro mais arrojado e até disruptivo».
«Before & Beyond» propõe, desse modo, revisitar os nove temas abordados nas nove edições anteriores, trazendo-os para o presente, com o objectivo de reflectir e questionar, assim como trazer a lume ideias, de carácter «prospectivo e investigativo».
O dia 30 de Setembro, data que marca o começo da Bienal EXD’17, inicia com as «Conferencias de Lisboa», que terão lugar no Grande Auditório do CCB. Das várias figuras que compõem o grupo de conferencistas, a Bienal conta com a presença de Arjun Appadurai, um dos pensadores mais destacados mundialmente, por se debruçar sobre o tema da globalização; o designer gráfico Stefan Sagmeister; o ideólogo da revista «Monocle», Tyler Brûlé; o neurocientista Miguel Nicolelis, construtor do exoesqueleto controlado pelo cérebro; a crítica de design Alice Rawsthorn; o arquitecto português, Eduardo Souto de Moura, e o designer universal Philippe Starck.
Após o ciclo de conferências, será lançado, no Auditório Nacional do Museu dos Coches o LIVRO EXD 99/17, que representa 10 edições da Experimenta, dedicadas à discussão e reflexão sobre o design, cá dentro e fora de portas. A EXD’17 «consolida e celebra um valioso legado cultural que contou com as contribuições de centenas de protagonistas prestigiados, das mais variadas áreas criativas e do conhecimento». O livro que celebra uma década do evento conta ainda com a contribuição de alguns pensadores que participaram nas várias edições.
Ainda no mesmo dia, a Galeria do Museu Nacional dos Coches inaugura a exposição «DRAWING IN STONE», em parceria com a Assimagra. Vinte e três autores expõem desenhos, de génese manual e digital, pensados para serem aplicados na pedra portuguesa, e no âmbito do programa experimental «Primeira Pedra». A exposição conta com a participação dos seguintes autores, de diferentes origens e nacionalidades: Álvaro Siza, Amanda Levete, Bijoy Jain, Carrilho da Graça, ELEMENTAL, Mia Hägg, Paulo David, Souto de Moura, Studio Mk27, Vladimir Djurovic, Ian Anderson, Jonathan Barnbrook, Jorge Silva, Pedro Falcão, Peter Saville, Sagmeister & Walsh, Claudia Moreira Salles, Estudio Campana, Fernando Brízio, Jasper Morrison, Michael Anastassiades, Miguel Vieira Baptista e a dupla Ronan & Erwan Bouroullec.
O dia que marca o começo da Bienal EXD’ 17 termina com a Performance videomapping e sound design das obras «INSIDE» e «THE ILLUSTRATED MAN», com duas temáticas distintas, na Praça do Museu dos Coches. Carla Carbone
No seu mais recente projecto curatorial «THEM OR US! Um Projecto de Ficção Científica Social e Política», a decorrer na Galeria Municipal do Porto, Paulo Mendes prossegue a sua reflexão plural sobre os desenvolvimentos históricos e a situação presente da nossa sociedade. No centro da proposta encontra-se a figura conceptual do invasor, fio condutor e pano de fundo de múltiplas abordagens que articulam as dimensões militar, política, territorial, mental, antropológica, ecológica, económica e social do mundo contemporâneo.
A exposição é constituída por núcleos orgânicos e temáticas que vão expondo um retrato multifacetado, do esquematismo falsamente simples das narrativas e posições ideológicas da Guerra Fria à volatilidade e ambiguidade que caracterizam a rede de poderes na geopolítica actual. Digitalização da sociedade, crise económica, cultura do medo, massificação do turismo, crises dos refugiados, nacionalismos, europeísmo, democracia, autoritarismo: os temas, contaminando-se reciprocamente, circulam como sintomas de uma realidade já só a custo abarcável, na qual a ficção possível que o título evoca encerra a única possibilidade de ordenar o caos.
Muito ampla, tanto na área de espaço ocupado como na selecção de obras e de temáticas convocadas, as cento e cinquenta obras e setenta objectos da exposição surgem repartidos pelos dois andares da galeria em sequências ou núcleos orgânicos, sem delimitação muito definida no espaço. A proposta é materializada principalmente com soluções cenográficas que rompem a ideia de um percurso linear, confortável, através de uma organização pontuada com barreiras e muros: velhos cacifos, pneus, paletes de madeira, armários, mesas, vitrines, andaimes, cuja instalação sugere os labirintos de um universo complexo. Sobretudo na fase inicial do percurso expositivo, após a entrada – que nos situa perante o humano e o natural com obras de Lawrence Weiner («Lost & Found & Lost Again», 2006), Hugo Canoilas («Rambo Rimbaud», 2015) e Erwin Wurm («The Artist Who Swallowed the World», 2006) e as duas salas escuras que confrontam os mundos analógico e o digital, onde um chão adesivo («Lodo», intervenção de Fernando Brízio) gera estranheza e prepara o espectador para o que se há-de seguir: trabalhos sobre a paisagem humana (Axel Stockburger, Andres Serrano, Jorge Molder, André Cepeda, Hans-Peter Feldmann, Nuno Ramalho, Arlindo Silva, Francisco Queirós), arquitectónica (António Júlio Duarte, Rui Manuel Vieira, Ângela Ferreira, Leonor Antunes, Christian Andersson), pública e urbana (Hugo de Almeida Pinho, Tiago Alexandre, Norman Mclaren), peças alusivas às condições de sobrevivência dos refugiados (Rodrigo Oliveira, Igor Jesus, Alexandra Moura, Estelita Mendonça, Didier Fiúza Faustino), ao corpo e à condição humana (Didier Fiúza Faustino, Julião Sarmento, Von Calhau, Lara Torres), à tecnologia (Eduardo Batarda, Miguel Palma, João Onofre, Horácio Frutuoso, Christopher Williams, Filipa César, Miguel Soares) e à sua obsolescência (Taryn Simon, Rui Toscano, Cory Arcangel), à situação europeia (Antoni Muntadas, Christian Boltanski, Fernando J. Ribeiro, Fernando José Pereira, John Baldessari, João Ferro Martins, Stephan Brüggemann), à resistência e possibilidade de acção e pensamento críticos (João Pina, Mafalda Santos, Maria Trabulo, André Alves, António Caramelo), de reflexões ecológicas (Nikolai Nekh, Jérémy Pajeanc, Paulo T. Silva, Ignasi Aballí) ou sobre o colonialismo (Daniel Barroca, Hugo Canoilas) e pós-colonialismo (Yonamime, Manuel Santos Maia).
Ainda em relação ao tratamento cenográfico do espaço, pode-se destacar o efeito de infinitude da instalação de Fernando Brito, o acesso feito por uma estrutura de andaimes ao primeiro andar (intervenção de Nuno Pimenta), onde a presença de uma tenda militar usada como sala de projecção nos conduz à obscuridade da última sala, espaço fantasmático onde encontramos obras de Renato Ferrão e Eduardo Matos, entre outros.
Longe da síntese, o que nesta proposta se impõe são o tom e a audácia especulativa, pela apresentação de obras que respondem concretamente ou mais indirectamente às temáticas enunciadas, estabelecendo um jogo de variação, de ecos e associações que favorece a ideia de reunião da multiplicidade, de desordem organizada: them or us, nós ou o caos. SVJ