A meio de qualquer coisa
Nuno Ramalho assina a curadoria da exposição «A meio de qualquer coisa» na Galeria Graça Brandão, em Lisboa.
Artista com trabalho em diferentes «media», como o desenho, instalação, escultura, mas também curador de outros projectos, sobretudo realizados no espaço Uma Certa Falta de Coerência, no Porto, Ramalho organiza agora a primeira exposição num espaço galerístico em Lisboa. A mostra reúne o trabalho de 8 artistas em início do seu percurso artístico, maioritariamente ex-estudantes da Faculdade de Belas Artes do Porto. São eles Catarina Real, Diana Carvalho, a dupla Felícia Teixeira e João Brojo, Frederico Brízida, João Gabriel Pereira, Paulo Osório, Pedro Huet.
Desde logo, a mostra motiva curiosidade por ser realizada por um artista que na sua prática assume projectos curatoriais e também por reunir um grupo de criadores mais jovens ou menos conhecidos do circuito expositivo, o que contribui para o factor surpresa e para a salutar imprevisibilidade da proposta.
A montagem da exposição parte de uma questão proposta por Nuno Ramalho aos artistas.
«Como imaginam o mundo dentro de 10 anos?» foi o mote curatorial, o ponto de partida reflexivo suficientemente amplo para respeitar várias abordagens e direcções diferentes seguidas pelos artistas participantes.
A exposição inicia-se com uma eficaz instalação de desenhos de Diana Carvalho e de desenhos de parede de Catarina Real – cuja montagem se estende ao piso inferior. O desenho e o vídeo têm uma significativa presença na mostra, estando no piso superior um trabalho interessante e bem instalado de Pedro Huet, «walled_3», sobre dispositivos, linguagens e realidades do sujeito contemporâneo, e em baixo uma das peças de Paulo Osório que mostra em «Banco Branco de Ferro» as condições e horizontes de trabalho do artista, num registo vídeo de um diálogo interpretado por três actores em palco, que funciona como projecção de um monólogo interior do artista.
No piso inferior, figura o trabalho discreto de Frederico Brízida e a instalação de João Gabriel Pereira, artista que terminou a licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design – Caldas da Rainha, em 2013, que aqui apresenta trabalhos de pequeno formato de diferentes dimensões, realizados a acrílico sobre papel, com motivos abstractos, mas sobretudo marcados pela presença da figura humana e pelo tema da sexualidade. Este trabalho, pela energia expressiva e pelo efeito de disposição do conjunto dos acrílicos, é sem dúvida o mais consistente e forte da exposição.
Felícia Teixeira e João Brojo, que expõe individualmente desde 2007, em dupla desde 2013, mostram três trabalhos da série «O Melhor é Passar Aqui na Segunda-feira»: uma peça mural, uma publicação e uma instalação escultórica baseada num tipo de sinalética agora comum nas lojas de conveniência, onde se lê o aviso “Open”, cuja ideia parte da relação com o espaço circundante da galeria e da experiência dos artistas com a comunidade envolvente, com os serviços existentes e com experiências de (in)comunicação com a vizinhança.
No texto de apresentação desta colectiva, Nuno Ramalho assume desde logo que a exposição é “uma forma não coreográfica”, deixando margem a que os autores prossigam livremente e naturalmente as temáticas e as linhas de trabalho que lhes são mais características. Contudo, a questão da identidade no sentido lato surge ainda assim como presença transversal e desdobrada em quase todos os trabalhos: a identidade do sujeito, do artista, de uma geração, do tempo contemporâneo, dos comportamentos, da vida privada, social... Na Galeria Graça Brandão até 30 de Abril. SVJ