Song Dong
A grande obra de Song Dong continua a ser «Waste Not», um trabalho em curso que o artista vem desenvolvendo desde 2005 e que integra agora a mostra retrospectiva que a Kunsthalle Düsseldorf lhe dedica. Esta grande instalação, relacionada com a história familiar de Song, é constituída por mais de 10.000 objectos domésticos, produtos de consumo, recipientes de todo o tipo, vestuário e mobiliário vindos da casa dos pais do artista.
A sua criação está sobretudo ligada à vida da sua mãe, Zhao Xiangyuan, que tendo vivido o empobrecimento e as condições precárias da sociedade chinesa nas décadas de 50 e 60, foi obrigada a gerir uma economia doméstica determinada pela carência e pela poupança, pelo aproveitamento e o não desperdício. O que vemos nesta instalação são colecções de muitos objectos, organizados por famílias, que o artista decidiu transformar em peça de arte e trazer a público, na tentativa de envolver e ajudar a mãe a aliviar a obsessão por guardar e coleccionar qualquer objecto que pudesse ser reutilizado, uma pulsão que a acompanhou até ao fim da vida, em 2008 e que se agravou com a tentativa emocional de preencher o vazio após a morte do marido em 2002.
Em redor de uma pequena casa de madeira – que só assim sobreviveu às transformações urbanas durante os preparativos para os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008 –, acumulam-se e expandem-se testemunhos da cultura material e dos princípios que marcaram a história social e política da China. Com efeito, partindo das experiências pessoais e da história familiar, Song Dong, como muitos artistas chineses, retratam acima de tudo o impacto que as condições económicas e políticas tiveram e têm sobre a vida individual da população chinesa.
Formado em pintura, Song Dong parou temporariamente de produzir arte em 1989, com os acontecimentos da Praça de Tiananmen, e só retomaria mais tarde uma prática artística associada à performance, à fotografia e ao vídeo. Muitos desses trabalhos estão presentes na exposição, assim como «My first home», em que de modo semelhante apresenta uma instalação/contentor de dimensões reduzidas em que retrata a casa de infância, seguindo uma via semelhante de representação histórica.
Exposta está igualmente a série «36 Calendars», formada por calendários anuais que cobrem 36 anos de história, entre 1978 e 2013, criados e ilustrados manualmente pelo artista a partir de memórias pessoais e da sua perspectiva individual sobre os acontecimentos que marcaram a história social e política do país durante esse largo período de tempo. Trata-se de um trabalho que apresenta ilustrações significativas para cada um dos 432 meses, iniciado pelo artista durante uma residência artística no Asia Art Archive, onde esteve um ano, entre 2011 e 2012, que contou também com o contributo do público.
A exposição prolonga-se até 13 de Março na Kunsthalle Düsseldorf. SVJ