O Centre Pompidou apresenta uma retrospectiva do artista alemão Anselm Kiefer com 150 obras que datam do fim dos anos 60 aos dias de hoje. Com salas temáticas que correspondem também a coordenadas espacio-temporais específicas da sua obra, a mostra inclui na galeria 1, pinturas, desenhos, vitrines, uma instalação e uma peça monumental colocada no hall do museu.
A sua pintura, maioritariamente de grandes dimensões, é plasticamente densa, possui uma energia, uma intensidade visual e matérica que encontra correspondência com os conteúdos, as questões e conceitos abordados, que vão da história da Segunda Guerra Mundial, do nazismo, da cultura germânica à poética das ruínas, ao pensamento místico, esotérico, cabalístico, com uma forte presença de citações e referências filosóficas (Heidegger), literárias e poéticas (Paul Celan, Ingeborg Bachmann ou Jean Genet).
Poderosa é a instalação monumental, edificação de seis contentores marítimos chapeados, com 3 pisos, que pode ser visitada no hall do museu, através de escadas em caracol, subindo e descendo do rés do chão ao último piso. A sua referência é «Fausto» de Goethe, pela sugestão de um duplo movimento de subida às alturas e descida ao abismo, presente no seu título – «Steigend, steigend, sinke nieder/En montant, en montant vers les hauteurs, enforce-toi dans l’abîme».
No seu interior, ao centro, encontram-se bobines de filme e uma cascata de faixas/rolos de chumbo que em baixo mergulham num tanque de água lamacenta.
Com colagens de fotografias a preto e branco, 100 000 ao todo, pertencentes ao arquivo pessoal do artista, como se fossem fotogramas e sequências de filmes, são a antítese do filme em celulóide já que, sendo de chumbo, não podem ser atravessadas pela luz. Neste espaço, a transparência dá lugar à opacidade e a introspecção sobrepõe-se à projecção.
A exposição está aberta no Centre Pompidou até 18 de Abril. SVJ
A exposição «Francesca Woodman. On Being an Angel», no FOAM - Fotografiemuseum, organizada pelo Moderna Museet de Estocolmo em colaboração com o Estate of Francesca Woodman apresenta 102 fotografias, a maior parte impressões em gelatina e prata e seis vídeos.
A fotografia de Francesca Woodman explora questões de identidade e de género no âmbito da auto-representação, utilizando o seu próprio corpo. Em ambientes interiores fechados e decadentes, o seu corpo, integralmente nu ou parcialmente escondido, parece fundir-se com o espaço em volta, rodeado de objectos dispersos. As suas fotografias criam atmosferas inquietantes.
Mesmo quando as fotografias mostram outras pessoas, elas funcionam como um duplo da artista. Produzidas em séries temáticas, os seus trabalhos fotográficos relacionam-se com adereços, lugares e situações. Ao combinar performance, actuação e auto-exposição, as fotografias de Woodman são muitas vezes perturbadoras, ocultam ou encriptam o que pretendem transmitir, não mostram toda a verdade.
Francesca Woodman cresceu em Denver, Colorado, numa família de artistas e começou a fotografar durante a adolescência. Com 13 anos tirou o seu primeiro auto-retrato. De 1975 a 1978, estudou na Rhode Island School of Design, recebendo uma bolsa para continuar os seus estudos em Roma.
Realizou aí a sua primeira exposição individual numa livraria e galeria especializada em futurismo e surrealismo. A maior parte do seu trabalho conhecido, cerca de 800 fotografias, foi realizada em Itália e Nova Iorque, cidade onde viveu entre 1979 e 1981, data da sua morte, por suicídio, aos 22 anos. Desde 1986, o seu trabalho tem sido exposto na Europa e nos Estados Unidos, sendo objecto de inúmeros estudos críticos.
Cinco anos após a sua morte, no Wellesley College Museum, em Massachusetts, a sua obra foi exposta pela primeira vez nos Estados Unidos. Na altura, foi editado um catálogo com textos de Rosalind Krauss e Abigail Solomon-Godeau. Na Europa, a primeira exposição dedicada à sua obra ocorreu na Fondation Cartier pour l'Art Contemporain, Paris em 1998 e, em 1999, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Mais recentemente, o Museum of Modern Art, San Francisco realizou uma grande exposição em 2010-2011, que posteriormente passou pelo Solomon R. Guggenheim Museum, em Nova Iorque, em 2012.
A retrospectiva «Francesca Woodman. On Being an Angel» é exibida no FOAM, Amesterdão, até 9 de Março de 2016. MM
O Musée d’Orsay e o Musée de l’Orangerie apresentam a exposição «Qui a peur des femmes photographes?». O objectivo é mostrar a intervenção das mulheres no campo da fotografia evidenciando o que o seu trabalho tem de característico e excepcional nos seus contextos históricos e socioculturais. Não se trata porém de uma história da fotografia feminina ou «no feminino» mas sim de demonstrar como algumas mulheres atingiram um grau elevado de mestria e competência em vários domínios da fotografia, tendo tido um papel importante na evolução do medium, desde o seu início, afastando a ideia de que eram simples amadoras de classes sociais privilegiadas. Valorizando a investigação que foi efectuada e descobertas inéditas, esta exposição junta obras-primas conhecidas e desconhecidas.
Na primeira parte que cobre de 1839 a 1919, patente no Musée de l’Orangerie, estão representadas mais de 70 fotógrafas, onde se incluem Anna Atkins, autora da primeira obra ilustrada de fotografias (1843-1853), Frances Benjamin Johnston e Christina Broom, pioneiras do fotojornalismo americano e inglês e outras artistas reconhecidas, como Julia Margaret Cameron e Gertrude Käsebier.
Desde meados do século XIX, a fotografia favoreceu a inserção das mulheres nos espaços de trocas, que constituíram as primeiras redes profissionais e amadoras da fotografia, já que havia restrições à sua participação noutros domínios artísticos, como a pintura e a escultura. Aproveitando uma fonte inédita de proventos comerciais ou como um meio de satisfazer um desejo de criatividade pessoal, foram-se afirmando como sujeitos pensantes. Algumas delas trabalharam isoladamente, outras em colectivos e para muitas delas a prática fotográfica tornou-se um instrumento de emancipação e subversão.
A exposição está construída de modo a pôr em destaque a exploração dos territórios do «feminino», nos registos do retrato e da ficção, por exemplo, no que toca à representação feminina do sentimento maternal, do casal e do mundo da infância, as questões da identidade sexual e da representação dos corpos masculinos e femininos.
Sustentadas pela ideologia progressista da «New Woman» anglo-saxónica, as fotógrafas vão conquistando territórios até aí reservados aos homens, nos ateliers ou em reportagens, abordando questões das minorias sociais e étnicas, a luta pelos direitos cívicos das mulheres ou a representação dos acontecimentos da Primeira Guerra Mundial.
A segunda parte da exposição, no Musée d’Orsay, balizada entre 1918-1945, está organizada em três secções temáticas: «Le détournement des codes» (Imogen Cunningham, Madame Yevonde, Aenne Biermann, Lee Miller, Dora Maar, Helen Levitt); «L’autoportrait et la mise en scène de soi» (Claude Cahun, Marta Astfalck-Vietz, Marianne Brandt, Gertrud Arndt, Elisabeth Hase, Ilse Bing); «La conquête des nouveaux marchés de l’image» (Germaine Krull, Margaret Bourke-White, Tina Modotti, Barbara Morgan, Gerda Taro, Dorothea Lange, Lola Alvarez-Bravo, etc.).
Neste período, as mulheres fotógrafas contribuem para a evolução da fotografia de muitas maneiras, incluindo a organização de exposições, a criação de escolas, a direcção de estúdios comerciais, a escrita de artigos e livros práticos e teóricos, além de, evidentemente, fazerem fotografia.
Mantendo as temáticas do período anterior, começam a subverter e transgredir os códigos artísticos e sociais, introduzindo um olhar crítico e distanciado sobre o seu estatuto e sobre as relações de dominação entre os sexos. A exposição do seu próprio corpo, o auto-questionamento, os jogos de máscaras e o esbatimento das identidades tornam-se temas predilectos.
Os géneros reservados aos homens, como o nu e o erotismo, as máquinas, a velocidade e a arquitectura industrial, assim como o auto-retrato, como experiência estética, exploração dos sinais da feminilidade ou expressão de pertença profissional, manifestam a emergência de uma nova mulher. Estão ao lado deles no mundo político, no teatro de guerra, na reportagem e no jornalismo, na moda e na publicidade, na ilustração.
A exposição decorre até 24 de Janeiro de 2016 nos museus de l’Orangerie e d’Orsay, com a participação da Library of Congress, Washington, D.C. MM
Bruno Zhu (1991) foi o vencedor do Prémio NOVO BANCO Revelação 2015, recebendo assim uma bolsa de produção para uma exposição individual que agora apresenta no Museu de Serralves, com curadoria de Filipa Loureiro e Ricardo Nicolau. Simultaneamente, no FOAM – Fotografiemuseum Amsterdam, no espaço Foam 3h – um projecto em que curadores convidam jovens fotógrafos a realizar a sua primeira exposição individual no museu com trabalhos que expandam os limites da fotografia – o artista apresenta a exposição «New Arrivals», em que transforma a biblioteca num espaço com outra leitura. A instalação combina e transporta motivos visuais do espaço privado para o público e vice-versa. Desta forma, Zhu explora a simbologia ambivalente da fotografia como superfície e objecto, representação e apropriação, dimensão tridimensional da imagem e a dimensão virtual, bidimensional, dos objectos.
O espaço expositivo é ocupado por imagens – representações de espelhos, tapetes, estantes, candeeiros e outras peças de mobiliário. Estes objectos-imagem, digitalizados e reproduzidos à escala original dos objectos, evocam e apresentam de modo crítico um circuito consumidor alternativo, criando um mundo transfigurado de funções fantasmagóricas.
A partir de catálogos e revistas mundanas, as imagens de mobiliário convidam o público para um mundo radiante e positivo, composto de representações da realidade, convocando-o para desfrutar de um admirável mundo novo, evidenciando a decoração como uma posição crítica para activar a reflexão pessoal.
Bruno Zhu é um artista português de ascendência chinesa, que estudou Design de Moda na Central Saint Martins de Londres. Actualmente vive em Amsterdão, onde frequenta o Mestrado em Belas-Artes no Sandberg Instituut. A exposição de Serralves, pode ser vista até 31 de Janeiro. A instalação em Amesterdão está patente no Foam até 13 de Dezembro. MM
«Empty Lot» é o projecto do artista mexicano Abraham Cruzvillegas realizado no âmbito da nova série de projectos anuais patrocinados pela Hyundai na Turbine Hall da Tate Modern. Formada por duas plataformas triangulares escalonadas e apoiadas por andaimes, a instalação de dimensão monumental é formada na sua zona superior por uma estrutura com 240 canteiros com 23 toneladas de terra retirada de parques e jardins da cidade.
Não sendo este um espaço destinado à produção e sem que o artista tenha plantado alguma espécie vegetal no solo, é bem possível que durante o período de exposição, brotem da terra cogumelos e pequenas plantas de sementes ou bolbos por influência de pontos de luz instalados e improvisados pelo artista a partir de materiais encontrados nas imediações da Tate.
Com esta peça Abraham Cruzvillegas deseja retratar a relação entre o espaço urbano e a natureza num dos locais mais movimentados, habitados e visitados da cidade, deixando em aberto a possibilidade de haver ou não transformações da peça ao longo da exposição. De resto, é esta imprevisibilidade que Cruzvillegas mais destaca neste projecto, desafiando os visitantes a ter esperança e convidando-os a acompanhar semanalmente o seu desenvolvimento.
Cruzvillegas pertence a uma geração de artistas mexicanos que emerge na década de noventa e que desenvolveu um corpo de trabalho de natureza escultórica, baseado na auto-construção de peças com objectos maioritariamente encontrados no espaço onde vive e trabalha, na Cidade do México. O seu método de criação artística inspira-se sobretudo na forma como a geração dos seus pais, vinda da zona rural do México, se instalou nos anos 60 na capital, construindo as próprias casas em etapas, através da apropriação/reutilização de materiais e improvisação artesanal de soluções arquitectónicas. Para este projecto na Tate, Abraham Cruzvillegas, afirmou ter como referências principais as formas construtivistas de El Lissitsky e o trabalho do arquitecto Buckminster Fuller, com os seus desenhos e cúpulas formadas pela intersecção de elementos triangulares. SVJ