Flatland (Edwin Abbott): uma, duas e três dimensões, às quais se somam outras, perfeitamente concebíveis a partir daí. Mas o ritmo ternário pode ser aquele que dá corpo a esta obra de três e mais dimensões: um ponto, um risco e uma figura; uma folha, um território e um palco de acção; uma cadeira, uma inclinação e uma força aplicada; uma actriz, uma autora ou uma pessoa em movimento; um objecto, uma madeira carbonizada, um material riscador; um assento, uma leveza e uma pressão; um trilho, um percurso e um ponto de chegada; um travelling, uma projecção e uma mise en abîme; uma função desviada, um espaço inesperado e uma surpresa formal; um arrastamento, um registo e uma localização; um papel branco, um trabalho a negro e uma artista a branco maculado.
O fogo, as cinzas, as marcas, os volumes, as representações, a perspectiva, o preto e branco, os gestos ou a acção são vocabulário da arte há muito tempo; a cadeira, por sua vez, tem surgido com especial singularidade no último meio século de arte. Trazidos pela performance a um espaço estreito e finito, todos esses elementos se concentram, no entanto, num vortex expressivo que os projecta para lá de qualquer restrição: «alquimizam os estragos», prosseguindo o seu trabalho no mundo, numa daquelas outras dimensões que imaginamos ou sabemos seguirem-se à terceira.